“Mas se eu estiver tão modificado que tenha deixado de adorá-la com todo o meu coração e toda a minha alma para além de qualquer outra criatura, não serei eu próprio.”
Quando fui à feira do livro este ano deparei-me com este maravilhoso livro. Já há muito que o queria ler, não só por ser uma fã incondicional das irmãs Bronte, mas também por ter lido o primeiro romance de Anne, Agnes Grey e o ter amado muito. Ainda não tinha comprado este porque quando trata de clássicos, gosto de ter a versão em português e a versão na língua de partida. Como este maravilhoso livro não tem a sua tradução à venda (porquê?), fui adiando a leitura. Entretanto na faculdade, uma colega chamou-me a atenção para o facto de este segundo romance de Anne ser ainda melhor do que o primeiro. Duvidei mas fiquei curiosa ao ponto de encomendar de imediato a versão em inglês. No meio disto tudo fui à feira do livro e encontrei, por acaso, esta versão traduzida, cuja tradução já conta com 20 anos! Comecei a lê-lo no início da última semana e só demorei todo este tempo porque o amei ao ponto de ir molengando na leitura para o fazer durar.
“Homem, o quão ignorante ele é no orgulho da sua sabedoria.”
Já tinha ouvido falar muito de Mary Shelley e do seu Frankenstein, mas foi só no ano passado, durante o último semestre da licenciatura, que decidi “vou ler este livro”. Falamos da autora devido à sua mãe, uma das fundadoras do feminismo verdadeiro – ênfase no “verdadeiro” -, numa cadeira de cultura, e do livro como pioneiro no género da ficção-científica numa cadeira de literatura. Desde então a minha curiosidade relativamente a ambos só cresceu. Entretanto passou-se mais de um ano, porém não me esqueci e cá estou eu.
Como provavelmente sabem, em Frankenstein, Mary Shelley conta a história de um estudante – Victor Frankenstein – que numa demanda por conhecimento e ciência desenvolve o desejo de “criar” um ser seu semelhante, somente através da ciência e experiência. Esta “experiência” é de facto bem-sucedida – Frankenstein cria, de facto, um ser, cria um monstro. Aterrorizado, foge do mesmo e deixa-o à solta no mundo. A partir daí, a criatura persegue o criador e o resto é, literalmente, história.
A mensagem que a história passa, para mim, é a melhor coisa do livro. Quer dizer, quantas vezes já não pensaram que a inteligência da humanidade vai ser a sua perdição? Estou sempre a pensar nisso. Tenho sempre presente na minha mente que todo o desenvolvimento que estamos a promover nos vai arruinar. Estamos a jogar um jogo de Deus. E nós não somos Deuses, somos só humanos. Claro que temos de evoluir e criar, é a lei da vida e precisamos de inovar para sobreviver. Mas já viram o que somos capazes de fazer? Criamos venenos e drogas, criamos armas e robots, inventámos guerras e coisas que voam, visitámos a lua e tocámos as estrelas. Fazemos coisas que nos matam todos os dias e não paramos nunca. Nunca estamos satisfeitos e estamos sempre à procura de criar a nova “grande coisa”. Quando penso em tudo o que já criamos não posso deixar de me sentir fascinada. Mas também assustada. Quando e onde vamos parar?
Vou dizer-vos uma coisa com toda a honestidade – gostei mais da mensagem da história do que da história em si. Adoro o seu simbolismo, mas a história em si não foi a minha preferida. Não obstante, é uma ótima história, e uma muito bem contada. A autora esteve muito bem na criação deste mundo fantástico e alternativo.
Sabiam que tudo começou como uma diversão? Ao que parece, a autora estava com outros autores e com o seu (muito) famoso marido a passar férias, quando foram retidos em casa por uma tempestade de neve. Então, juntamente com 3 desses autores, decidiu-se que fariam 4 histórias de fantasia para se entreterem. Destes 4, só Mary não faltou à palavra. E ainda bem.
Para mim, este foi um começo glorioso para a ficção-cientifica como género. E como tal acho que nunca pode ser ignorado. Foi assim, pelas mãos de Mary Shelley, que nasceu um dos géneros mais aclamados e vendidos atualmente. Nem que seja por uma questão de curiosidade ou respeito, acho que todos devíamos ler esta obra.
Como tal, recomendo-vos a leitura desta obra tão fundamental no cânone. Se gostam de ficção-cientifica, então não podem mesmo deixar de ler. E se não gostam, bem Frankenstein é um clássico. E se há coisa clara como água na literatura para mim é que os clássicos são para ser lidos. Foram eles que transformaram a literatura no que ela é hoje, e temos para com eles uma divída de milhões. Se a única forma através da qual a podemos saldar é lendo-os, então de que estamos à espera? Corram até a livraria mais perto de vocês e comprem Frankenstein de Mary Shelley. Leiam!
“Basta amar ou ser amado. Não peçam mais nada depois. É esta a única pérola que podemos encontrar nos caminhos tenebrosos da vida. Amar é uma consumação.”
Após quase um mês de ausência, regressei. E voltei com uma justificação para este tempo afastada: Os Miseráveis. Vocês literalmente não têm noção de há quanto tempo eu queria ler este livro. A única razão pela qual não o li antes é simples e prende-se com o seu tamanho. Mas agora lá foi. Li a grande obra de Victor Hugo e não podia estar mais feliz e literariamente realizada do que estou neste momento.
Estudante de Letras. Romântica Incurável. Perdida algures num sonho. Apaixonada por livros, chá, contos de fadas, tragédias e chuva. Entre Flores & Estrelas.