De facto, ouvindo os gritos de alegria que cresciam na cidade, Rieux recordou-se de que essa alegria estava ameaçada para sempre. Porque ele sabia o que essa multidão em alegria ignorava e que pode ser lido nos livros, que o bacilo da praga nunca morre nem desaparece, que pode permanecer adormecido por décadas em móveis e têxteis, que ele aguarda pacientemente em quartos, caves, malas, lenços e papeladas e que, talvez chegue o dia em que, para infortúnio e educação dos homens, a praga desperte os seus ratos e os envie para morrer numa cidade feliz.
Não vou fingir que vos venho falar deste livro em particular por alguma razão que não a situação atual que todos vivemos. A Peste estava na minha lista há algum tempo, sobretudo porque gosto muito de Camus. Lembro-me que quando li O Mito de Sísifo — que foi o último livro do autor que li — era para ter lido antes este. Depois foi passando e, não fosse o que se está a passar agora, não me parece que me tivesse lembrado tão cedo. Mas ainda bem que me lembrei.
Os nossos pecados são criados no paraíso para originar o nosso próprio inferno.
Lembro-me que o primeiro livro que li de Bukowski foi Música para Aguardente. Lembro-me de ter ficado bastante impressionada, talvez mais chocada do que impressionada, compreendo agora. Desde então, nunca li mais nenhum livro deste autor, com exceção de um conto aqui e ali. Surge sempre algo que sinto mais inclinação para ler ou simplesmente não me lembro. Mas há um tempo encontrei a versão original desta obra e pensei, porque não?
Os deuses são estranhos. Não são os nossos vícios que eles utilizam como instrumento para nos magoar. Eles levam-nos à ruína através daquilo que em nós é bom, gentil, humano, afetuoso.
A obra de que vos falo esta semana foi novamente uma leitura de oportunidade. É verdade que não me teria lembrado dela se não a tivesse visto recentemente à venda numa livraria. Mas também é verdade que assim que a vi não pensei duas vezes. Gosto muito das obras de Oscar Wilde e, enquanto artista, gosto bastante dele. Assim, fiquei muito entusiasmada com De Profundis.
Tem cada um o seu modo pessoal de dormir e morrer, julgamos nós, mas é o dilúvio que continua, chove sobre nós o tempo, o tempo nos afoga.
Não sei sobre quantas obras de Saramago já vos falei aqui, mas sei que já foram algumas. Como já vos contei, sou uma grande fã. Em relação a esta escolha em particular, apesar de há muito estar na lista de obras de Saramago que queria ler, confesso que foi devido ao filme baseado na obra e realizado por João Botelho que está para estrear que me decidi de uma vez a comprar e a ler. Não fosse isso, talvez tivesse optado por outra.
Juntamente com a iluminação de rua, tudo respira ilusão.
Esta leitura foi verdadeiramente um caso de oportunidade. Há algum tempo que queria ler algo deste autor e nunca consegui. Ora porque não encontrava à venda, ora porque não queria mandar vir em outro idioma, ora porque simplesmente me esquecia que queria ler. Aconteceu recentemente ver esta edição em francês à venda numa livraria e, como era tão acessível, nem pensei duas vezes.
Estudante de Letras. Romântica Incurável. Perdida algures num sonho. Apaixonada por livros, chá, contos de fadas, tragédias e chuva. Entre Flores & Estrelas.