“A Dama das Camélias”, Alexandre Dumas Filho
“Aquela mulher tinha uma admiração infantil pelas coisas mais simples. Havia dias em que ela corria pelo jardim como uma menina de dez anos atrás de uma borboleta ou de uma libélula. Aquela cortesã, que gastou mais dinheiro em ramos de flores do que aquele que seria necessário para uma família inteira viver com conforto, às vezes sentava-se na relva durante uma hora para examinar a simples flor que tinha o seu nome”
Não sei bem desde há quanto tempo é que queria ler este livro, mas lembro-me de ser menina e procurar a tradução desta obra por todo o lado sem nunca a encontrar. No último mês comprei a versão em francês e resolvi-me a ler.
A Dama das Camélias é uma história tão conhecida que não sei se precisa de introdução. Conta a história de Armand Duval que se apaixona por Marguerite Gautier, uma famosa e belíssima cortesã francesa. Os dois envolvem-se num affair e durante um tempo tudo corre muito bem. Porém, há um problema: Marguerite está habituada a um certo nível de vida que os amantes sustentavam mas que Armand, sozinho, não podia sustentar. Ao mesmo tempo, o nome de Marguerite não era o mais aconselhável para estar ligado ao de um jovem em início de vida que pretenda triunfar na sociedade parisiense.
Vou já começar por vos dizer que adorei esta história. Esta é exatamente o tipo de premissa que aprecio na literatura e é exatamente aquela em que acredito. Aqui está presente o meu tipo de amor preferido: platónico, impossível e incrivelmente humano.
Gostava de vos contar, se ainda não sabem, que esta obra é baseada em factos verídicos e é levemente auto-biográfica. Isto quer dizer que Marguerite Gautier existiu mesmo. O seu nome era Marie Duplessis e Alexandre Dumas (Filho) teve, de facto, um breve, mas aparentemente forte, affair com ela. De resto, o nome do protagonista desta obra tem as mesmas iniciais do do seu autor. Não sei se concordam, mas acho que este facto torna a obra ainda mais interessante.
Se houve algo de que gostei a valer nesta obra foi a forma como a protagonista foi tratada. Geralmente este tipo de mulher era marginalizada pela sociedade. Eram cortesãs e nada mais. Aqui, Marguerite é retratada como uma jovem normal, que por vezes parece até infantil e sonhadora. Além disso, ficou claro para mim que ela queria ser amada. Aliás, foi por isso que se envolveu com Armand. Tal como ela refere a certa altura, ele foi o único que a amou. Porém, ela também queria viver bem. Cada vez que penso que, não fosse a ambição e luxo, ela provavelmente não seria cortesã e, não fosse isso, poderia talvez ter ficado com Armand, parte-me o coração. Mas depois penso ‘bem isso seria uma grande seca e não dava, de certeza, um livro’ e então tudo faz sentido.
Além disso, nada me parte o coração como a maneira como tudo acabou. Marguerite, como Marie, morreu jovem e sem aquele que amava. No fim, todos os seus bens foram leiloados para pagar as suas dívidas e nada dela sobrou a não ser a recordação de alguém que, afinal, podia ser altruísta e amar de verdade alguém.
Ah e não posso deixar de mencionar o 'ciúme'. Os ciúmes são um fator importante na obra e, para mim, são um dos aspetos que mais contribui para o cariz humano da obra de Dumas Filho.
E porquê ‘dama das camélias’? Marguerite trazia sempre consigo camélias. Brancas ou vermelhas.
Por fim, deixo-vos com uma forte recomendação para que leiam A Dama das Camélias. É uma obra lindíssima e uma das mais populares da literatura. Além disso, é verdadeiramente humana. O amor, o ciúme, o preconceito. E depois, aquela jovem que, afinal, não era nada aquela por quem todos a tomavam. A obra vale muito a pena mesmo. Vou ser honesta, não faço ideia se entretanto voltaram a traduzir a obra para português. Sei que à uns anos houve uma tradução da Dom Quixote e outra da Europa-América, mas não sei se ainda existem ou se houve outras traduções posteriores a essas. Mas se puderem, não percam a oportunidade de ler A Dama das Camélias.
Idioma de Leitura: Francês
5/5