“A Educação Sentimental”, Gustave Flaubert
Sinto-me tão desesperado! Então não está, aliás, tudo acabado? Acreditei, quando a revolução chegou, que seríamos felizes. Recorda-se de como tudo era belo, de como se respirava bem! Mas eis-nos derrotados e pior do que nunca.
A Educação Sentimental de Flaubert foi publicada em 1869 e é ainda considerada uma das obras mais influentes do século XIX.
A história divide-se em três partes e segue essencialmente a vida de Frédéric Moreau, localizando-se em França na época da Revolução Francesa. Aspetos principais da narrativa incluem a paixão de Frédéric pela Senhora Arnoux, uma mulher casada, mas sobretudo, o retrato da sociedade de então, com todas as suas intrigas – sociais, políticas e românticas.
Destacaria sobretudo o aspeto histórico. Como escrevi, a narrativa engloba a revolução e o que a ela se segue e, tal resulta numa atenção da obra às intrigas políticas de então, aos medos e aos sonhos que vieram e se foram com este momento histórico.
É evidente que um dos aspetos que mais cativa na obra é a vida romântica do protagonista. O modo como alimenta voluntaria e conscientemente a paixão que tem por uma mulher que sabe que nunca poderá ter é muito interessante se considerarmos o contexto romântico e as convenções literárias, mas igualmente a indulgência e a inatividade da geração. Aqui é de notar o modo como o protagonista é associado a obras e a autores românticos ou preconizadores dessa tradição como Lord Byron, Mussett ou Cervantes, o que nos leva a aduzir a origem do tipo de devaneios e tendências em questão.
No mesmo âmbito, sublinharia também o modo como, contrariamente a isso e não obstante, o amor ou a expressão do mesmo também é exposto como um meio de atingir fins mais prementes e menos nobres, o que resulta numa banalização da questão antes idealizada.
Todos estes aspetos enfatizam a tradição do Realismo e, talvez por isso, esta obra relembre outras obras e autores dessa tradição, como Maupassant, Eça de Queirós ou Balzac.
É sabido que o autor baseou grande parte desta obra em factos da sua vida e da sua experiência. Aí se inclui inclusive a paixão de Flaubert pela esposa do músico Sclesinger – que terá servido de modelo ao Senhor Arnoux -, mas também o próprio retrato da sociedade de então. Flaubert disse sobre este livro que pretendia escrever uma história moral sobre a sua geração, sobre os sentimentos e vivências e sobre o que considerava ser a inatividade destes.
O resultado foi certamente um pendor moral que é evidente ao longo de toda a obra. Mas mais do que isso, é notório o tom pessimista e realista da obra, o que apenas pode advir justamente do objetivo do autor em retratar fielmente a sua época e geração.
Muitas vezes li que A Educação Sentimental seria a melhor obra de Flaubert, não Madame Bovary. Diversos autores admiravam esta obra e autor, como Proust, George Sand ou Kaflka. É muito fácil perceber porquê. A Educação Sentimental é, de facto, uma leitura que nos move enquanto leitores e uma daquelas raras produções que faz com que nos reconheçamos ainda nela.
Antes de A Educação Sentimental, de Flaubert somente tinha lido alguns contos e, claro, Madame Bovary. Não gosto de fazer comparações e não o farei, apenas sublinharei – porque não consigo não o fazer - o quanto A Educação Sentimental me impressionou. Esta obra foi traduzida em português pela Relógio d’Água, numa edição que conta com um anexo sobre o autor e a obra da autoria de Proust, que também não deixo de recomendar.