“A Inquilina de Wildfell Hall”, Anne Bronte
“Mas se eu estiver tão modificado que tenha deixado de adorá-la com todo o meu coração e toda a minha alma para além de qualquer outra criatura, não serei eu próprio.”
Quando fui à feira do livro este ano deparei-me com este maravilhoso livro. Já há muito que o queria ler, não só por ser uma fã incondicional das irmãs Bronte, mas também por ter lido o primeiro romance de Anne, Agnes Grey e o ter amado muito. Ainda não tinha comprado este porque quando trata de clássicos, gosto de ter a versão em português e a versão na língua de partida. Como este maravilhoso livro não tem a sua tradução à venda (porquê?), fui adiando a leitura. Entretanto na faculdade, uma colega chamou-me a atenção para o facto de este segundo romance de Anne ser ainda melhor do que o primeiro. Duvidei mas fiquei curiosa ao ponto de encomendar de imediato a versão em inglês. No meio disto tudo fui à feira do livro e encontrei, por acaso, esta versão traduzida, cuja tradução já conta com 20 anos! Comecei a lê-lo no início da última semana e só demorei todo este tempo porque o amei ao ponto de ir molengando na leitura para o fazer durar.
A Inquilina de Wildfell Hall trata então da história de Gilbert que se apaixona por uma misteriosa viúva que se muda para uma propriedade nas proximidades da sua casa – Wildfell Hall. Uma senhora sozinha com um filho a morar numa casa em decadência é algo que impressiona os vizinhos e dá aso a inúmeros rumores. Gilbert não acredita neles porque entretanto vai conhecendo e estimando a pobre Helen. Até que acredita encontra-la numa posição comprometedora com um senhor de importância e seu amigo. Com o intuito de clarificar a situação, Helen oferece a Gilbert o seu diário onde está escrita e detalhada a sua triste, penosa e cruel história.
Quem era, afinal Helen e porque estava ali? Bem, estava ali refugiada depois de ter fugido de uma casa de tristeza e de um marido leviano que estava constantemente bêbado, na companhia de amigos terríveis, a tentar tornar o filho de ambos numa versão sua e a instigar o seu ódio contra a mãe, e a alojar amantes debaixo do teto que partilhava com Helen. Helen tolerou esta vida de prevaricações, indecência e imoralidade por 5 anos, coberta por piedade e amor cristão, mas o seu dever para com o filho e para com a educação e formação do mesmo falou mais alto e ela saiu de casa com o filho, encontrando refúgio em Wildfell Hall e tornando-se a sua inquilina.
Esta história tocou-me tão profundamente que não acreditariam se não fossem eu e sentissem. Na minha vida, conheço uma pessoa que passa pelos mesmos problemas e leva a mesma vivência de Arthur, o marido de Helen, e como tal, senti a tristeza, desespero e frustração de Helen como se fossem vividas por mim.
Sabem que este romance é considerado como um dos primeiros romances feministas? A jornada de Helen em busca da independência e da emancipação não deixa ninguém indiferente. Na altura foi considerado como “estranho” e desviante”. Suponho que devido ao facto de na altura ser impensável uma senhora deixar o marido, por muito cretino que ele fosse. As senhoras tinham de apoiá-lo e estimá-lo, independentemente daquilo que ele fizesse ou dissesse. Era impensável quebrar os sagrados votos do matrimónio.
Conseguem acreditar no quanto o mundo mudou e evoluiu desde essa altura? Anne deve tê-lo previsto e gosto de pensar que se nos visse hoje em dia, mulheres fortes e independentes, estaria orgulhosa e maravilhada. Como podemos dar tudo por garantido quando houve tempos tão difíceis e pessoas que lutaram tanto para nós podermos viver como vivemos? E ainda há tanto para fazer, tanto para conquistar, tanto para escrever.
Se pudesse dar mais de 5 estrelas a este livro, dava. A classificação máxima não lhe faz justiça. Que coisa magistral esta! Concordo hoje com a minha colega que me disse que este era o melhor romance de Anne, e a única coisa que lamento é ela não ter escrito mais. Este é definitivamente um dos melhores livros das talentosas irmãs Bronte e se não o lerem ficarão a perder muito. Acho que não preciso de dizer mais nada, pois não? Recomendo MUITO a leitura de A Inquilina de Wildfell Hall de Anne Bronte.
Idioma de leitura: Português
5/5