“A insustentável leveza do ser”, Milan Kundera
“Procuramos sempre o peso das responsabilidades, quando o que na verdade almejamos é a leveza da liberdade.”
Comecei a ler este livro completamente por acaso. Obviamente que já tinha ouvido falar dele, mas nunca me tinha proposto a lê-lo. Estou neste momento a ler Guerra e Paz, e como sabem, esta obra em Portugal está divida. Quando acabei o primeiro livro, e enquanto esperava que o segundo (e último) chegasse, fiquei sem nada para ler. É claro que isto não podia acontecer. Entrei numa Fnac e iniciei a minha busca. Acabei por esbarrar em A insustentável leveza do ser por acaso, e não fosse o meu pai a encorajar-me a comprá-lo, não sei se o tinha trazido. Ainda bem que o fiz.
A insustentável leveza do ser é uma obra complexa publicada pela primeira vez em 1984. A nível de narrativa e história, podemos dividir a obra em 4 momentos diferentes. Tomas, Tereza, Sabina e Franz. Estes são os protagonistas que ao longo das 7 partes do livro vamos conhecendo. Para além do cão Karenine, que na verdade, é uma cadela. Mas isso é outra história. Ao ler esta obra é importante estar familiarizado com o contexto, que foi algo que tive de investigar.
A história passa-se em Praga no século XX, na altura das invasões russas à Tchecoslováquia, pelo que é obviamente marcada pelas tensões que daí advieram. Então, como pano de fundo temos a Primavera de Praga, um período de liberalização política na Tchecoslováquia durante a época do domínio pela União Soviética após a Segunda Guerra Mundial. É neste contexto que vamos conhecendo os amores, desamores, dramas, e dúvidas existenciais dos 4 personagens.
Todas estas personagens estão ligadas de certa forma: Tomas é marido de Tereza, mas tem como amante Sabina, também amante de Franz. Ao longo da obra vamos vendo como os enredos se vão cruzando e entrelaçando.
É claro que este livro não tem a ver com a história propriamente dita, mas sim com o que esta transmite: uma mensagem filosófica e política poderosa.
Vocês sabem que eu sou uma estudante de literatura e não de filosofia, mas estou todos os dias num ambiente académico onde as reflexões filosóficas predominam, não estudasse eu em Letras. Lá, é sempre explorada a vertente filosófica de tudo, inclusive das obras com que trabalhamos todos os dias, embora como é óbvio não seja esse o nosso foco.
Quando comecei a ler o livro, estava logo lá nas primeiras páginas o meu filósofo preferido: Nietzsche com o seu “eterno retorno”. Como podem adivinhar, a perspetiva existencialista acaba por dominar o texto. Também Parménides está presente com a sua famosa teoria. É daí que vem o título. Parménides via o mundo, e por isso o ser, como pares opostos: luz/escuridão, calor/frio, positivo/negativo, ser/não ser, peso/leveza. Curiosamente (ou não), os personagens acabam por personificar isto, sendo pares opostos uns dos outros.
O livro é sobretudo uma reflexão sobre o significado da vida, abordando sentimentos e pensamentos que todos já tivemos, refletindo ainda sobre um tema que muito me interessa: amor real vs amor idealizado, e outro que muito me comove, não fosse eu uma vegetariana: o carinho (ou falta dele) pela vida animal, já para não falar do dilema corpo/alma que domina uma grande parte da narrativa.
Não sei bem se este é um livro que qualquer pessoa possa gostar. Aliás, não é esse o problema. O problema para mim, é que não seja um livro facilmente entendido por qualquer pessoa. Porém, é um livro que aconselharia. Definitivamente. Especialmente se se interessar por livros com significado, ou por filosofia, ou simplesmente por bons livros.
Idioma de leitura: Português