“A Náusea”, Jean-Paul Sartre
Estou sozinho no meio destas vozes felizes e ruidosas. Todas estas criaturas gastam o seu tempo a explicar, a perceber alegremente que concordam todas umas com as outras. Por amor de Deus, porque é que é tão importante pensarmos todos as mesmas coisas?
A Náusea foi o primeiro romance de Jean-Paul Sartre e foi originalmente publicado em 1938. Terá sido, à altura, uma obra bem-recebida pelos leitores, embora tenha suscitado alguma discórdia entre o meio académico.
A Náusea segue um autor — Antoine Roquetin — que se encontra na cidade de Bouville a pesquisar sobre a vida de uma personalidade histórica sobre a qual se encontra a escrever um livro. O narrador, que antes vivera uma vida preenchida e havia viajado muito, atravessa agora uma fase mais sossegada da sua vida ao ver-se numa cidade mais limitada. A Náusea remete para o modo como o protagonista observa e considera a sua própria existência e como olha as pessoas, os objetos e o mundo ao seu redor.
Ao longo de toda a obra lemos sobre os esforços do narrador, em vão, para encontrar interesse e entusiasmo, sentir empatia, relativamente ao que o rodeia. O protagonista descreve o modo como é sistematicamente acometido por uma sensação de náusea, que no fundo, nada mais é do que a reação dele à sua própria existência e, por extensão, a tudo e todos os que o rodeiam.
Como é sabido, esta obra é remetida ao âmbito da filosofia existencialista, na qual o autor se destacou. Realmente, penso que, das obras que li também remetidas para esse campo, A Náusea é possivelmente aquela que mais evidencia esse tipo de pensamento.
Há momentos da narrativa que transmitem um sentimento quase de claustrofobia. Nomeadamente e sobretudo aqueles em que o autor questiona a sua existência ou aqueles em que questiona a existência dos objetos em seu redor e a sua relação com eles. É especialmente interessante visto que, quando estava a ler, pensava muitas vezes que aquilo já me tinha ocorrido; que já tinha pensado aquilo ou que já tinha lido algures sobre aquilo; mas que nunca tinha demorado muito com essa reflexão, que não havia visto tal assim exposto, com tanta simplicidade, como se fosse uma evidência ou um facto.
Segundo o próprio autor, A Náusea seria uma das suas melhores obras. Não é muito difícil perceber porquê. Ainda assim, um autor ter essa consciência e afirmá-la não deixa de ser singular.
Esta obra relembrou-me muito as obras de autores como Camus, Kafka ou Dostoiévski, o que não é, como constatam, de todo, estranho. Mas deixo aqui a nota de qualquer modo, se tiverem interesse. No mesmo sentido, se vos interessar, A Náusea está traduzida em português numa edição da editora Livros do Brasil que encontrarão com muita facilidade.