“A Primeira Investigação de Poirot”, Agatha Christie
Deste demasiado espaço à tua imaginação. A imaginação é um bom ajudante e um mau mestre. A explicação mais simples é sempre a mais provável.
Acho que nunca tinha escrito aqui sobre uma obra deste género. Realmente, não costumo ler muitas histórias assim. De Agatha Christie só me lembro de ter lido Um Crime no Expresso do Oriente quando era mais nova. Em relação a esse, lembro-me de ter gostado muito e de ter ficado bastante impressionada com a história e, sobretudo, com o seu final, como creio que, de resto, acontece a quase toda a gente. Recentemente surgiu a oportunidade de ler esta primeira obra da autora e, confesso que já estava tão preparada para algo rebuscado ao nível Expresso do Oriente que acho que já comecei a ler esta obra demasiado expectante e alerta.
A Primeira Investigação de Poirot (1920) foi o primeiro livro publicado de Agatha Christie e narra o mistério do assassinato de Mrs Inglethorp. A história centra-se num núcleo de personagens, todas potenciais suspeitas do assassinato de Mrs Inglethorp. No entanto, desde início que as suspeitas sob o seu marido são tão claras que somos levados a desconsidera-lo por ser demasiado óbvio; afinal, só o seu casamento com uma senhora tão mais velha e, coincidentemente, tão mais rica, já é suspeito. Assim há uma parte significativa da narrativa que rodeia esta suspeita. A restante narrativa dedica-se à investigação de quase todas as personagens e à sua consequente ilibação até se encontrar o culpado/a.
Pessoalmente, acho que o ponto mais positivo e o mais negativo da obra são o mesmo – a verosimilhança ou a ausência dela. Sei que não é um requisito base (ou nem um requisito) neste género de ficção, mas é importante para mim que o que estou a ler possa ou pudesse realmente acontecer na vida real. E todas as reviravoltas na narrativa, todas as suspeitas, o clima de que qualquer personagem pudesse ser culpada, a imensidão de provas e o imbróglio final que desvenda o "mistério” são, para mim, tanto um factor positivo — já que realmente cativa — como negativo — caíndo por vezes no exagero. Outra coisa de que não gosto especialmente é desta associação constante de Poirot com uma espécie de génio no desvendar de crimes, quase que única e exclusivamente por uma qualquer intuição sobrenatural. Sei que é a base da obra de Agatha Christie, mas nestas duas obras que li dela, acho demasiado surrealista e, lá está, inverosímil. Sim, eu sei, “o que esperava eu ao ler estas obras”, mas mesmo assim!
Como escrevi acima, de Agatha Christie só tinha lido Um Crime no Expresso do Oriente, mas ao ler agora esta obra não consigo deixar de pensar que talvez já não varie muito. Não tenho conhecimento para falar em relação às restantes, mas no que concerne estas duas obras, parece que há claramente um padrão e uma fórmula comum. Não quero com isto dizer que não vale a pena ler ou que acho que sejam más obras, nem pensar. Gostei muito de ler as duas. São apenas muito semelhantes e, se fosse ler outra obra da autora (e certamente que no futuro o farei), sinto que já não vou ser surpreendida.
Acho que é justamente por este tipo de aspeto que esta obra não me impressionou tanto como Expresso do Oriente. Como vos disse no início, sinto que já estava de pé atrás e, por isso, embora reconheça o esforço para tornar, ao longo da narrativa, o seu desfecho o mais improvável possível, não me impressionou por aí além. Na verdade, foi exatamente esse esforço para tornar algo impossível que me fez suspeitar de que mais possível do que isso era impossível.
Ainda assim, não me canso de dizer que esta leitura foi muito agradável e super bem-vinda depois das últimas obras que li. Além disso, creio que Agatha Christie é uma daquelas autoras que agrada a toda a gente, mesmo às pessoas que, como eu, não leem muito obras deste género. E não há como falhar com algo que, por norma, agrada à maioria. Qual é a vossa opinião? Gostam de histórias criminais ou de mistério? Costumam ler obras de Agatha Christie? Existe alguma em particular que recomendem?