“A Quinta dos Animais”, George Orwell
“Todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais do que outros”
Começo por dizer que sou uma grande fã de Orwell e de distopias. Após ler 1984 fiquei completamente rendida. Desde essa altura que estava comprometida a ler A Quinta dos Animais. A verdade foi que demorei a encontra-lo à venda. Acabei por ler Dias na Birmânia (que conta com um resenha aqui no blog), de que também gostei imenso, mas d’A Quinta dos Animais nada. Há um tempo que reparei que voltaram a coloca-lo à venda. Não perdi tempo. Já está lido e arrumado na estante, de onde desconfio que ainda vai sair para ser relido.
Publicado no século XX, A Quinta dos Animais é uma sátira à União Soviética de Estaline que teria corrompido os ideais marxistas por meio de manipulação e corrupção. Como é que isto acontece? A história é a seguinte: certa noite, na intitulada Quinta do Infantado, os animais residentes reúnem-se e ouvem o discurso de um porco, conhecido por Major, impulsionado por um sonho que o mesmo tivera, e no qual se apercebeu de que o mau estar dos animais é causado pelo Homem, que se assenhora e aproveita do seu trabalho e os descarta em seguida, matando-os. Desta revelação nasce a convicção de que os animais só serão felizes e livres quando se livrarem do Homem. Isto acaba por acontecer depois de uma rebelião, após a morte de Major. Os animais expulsam da quinta o seu legítimo dono, o senhor Reis, e três porcos assumem o comando da quinta que passa a ter o nome de Quinta dos Animais e criam uma nova doutrina, o animalismo. No princípio corre tudo às mil maravilhas, porém o poder acaba por subir à cabeça de um dos porcos em comando – Napoleão – que, passo a passo, com recurso a muita manipulação, consegue alterar o inalterável, uma doutrina aprovada e adorada por todos, e mudar tudo, chegando mesmo a fazer negócios com o Homem (algo estritamente proibido). Os porcos começam, com o tempo, a comportar-se mais como humanos do que como animais, sendo que no final os animais não conseguem distinguir uns dos outros.
É claro que neste livro o que aconteceu foi que uma tirania foi substituída por outra. Os animais estavam mal com o governo dos humanos, mas não ficaram melhores com o dos porcos. Muito pelo contrário.
Uma das coisas mais importantes desta obra, é que ela consegue ilustrar uma coisa muito importante: é completamente impossível manter uma sociedade utópica em que todos são iguais. Nietzsche tinha razão, a igualdade não é possível. O ser humano tem sempre uma tendência natural para o poder e para a eleição de um líder. A sociedade precisa sempre de um líder. O problema dos líderes é que eles se acostumam ao poder.
Sempre houve algo que me fascinou e arrepiou nos regimes ditatoriais e que é o seguinte: como é possível uma população deixar-se governar por um tirano, sem nada fazer para o destituir? Compreendo como eles chegam ao poder: enganando e manipulando. Mas como é que se mantêm lá? É assustador. Por muito medo que incutam, como é possível a população não se rebelar? Como é possível eles terem apoiantes e pessoas que lutam por eles?
Quando acabei de ler A Quinta dos Animais não fiquei mais esclarecida. Na verdade, durante toda a leitura ficava estupefacta cada vez que uma crença era adulterada sem mais nem menos e a população era manipulada para acreditar nela. Fiquei mesmo incomodada com isto. Porque só conseguia pensar “ena, é assim que se mantêm ditaduras”.
Não posso recomendar A Quinta dos Animais vezes suficientes. A composição e publicação d’A Quinta dos Animais representa um triunfo da literatura. Através das palavras, Orwell conseguiu mostrar e ilustrar uma coisa incrível. Por favor, façam um favor a vocês mesmos e comprem. É uma maravilha grande. Lê-se muito rápido, é de leitura muito acessível, já para não falar da mensagem que contém e que é intemporal. Uma grande obra que certamente merece toda a aclamação que tem. É uma analogia política que está muito perto da perfeição. George Orwell fez uma coisa magnífica. Façam também uma coisa magnífica e leiam A Quinta dos Animais.
Idioma de leitura: português
4/5