“A Rapariga dos Olhos de Ouro”, Honoré de Balzac
Nada nos consola de ter perdido o que nos parecia infinito.
A Rapariga dos Olhos de Ouro é um conto de Balzac, publicado em 1835, pertencendo à série Histoire de Treze de Cenas da Vida Parisiense de Comédia Humana.
A Rapariga dos Olhos de Ouro foca-se na vida da sociedade parisiense. Segue, em concreto, Henri de Marsay a partir do momento em que encontra pela primeira vez a “rapariga dos olhos de ouro”, Paquita, por quem rapidamente se encanta. O facto de Paquita estar sempre sob vigia de uma aia que a acompanha para todo o lado, confere-lhe um mistério e uma aura de inacessibilidade que atraem Henri, que logo decide seduzi-la. Com a ajuda de amigos, começa a planear a conquista da jovem, que consegue encontrar por duas vezes. Ao terceiro encontro, Henri e Paquita decidem fugir juntos, mas nesse momento a rapariga menciona-lhe uma mulher, a marquesa, a quem está ligada, como que por uma relação de mestre/escrava. Nesse momento, Henri, furioso tenta assassinar Paquita, o que não ocorre. Mais tarde, com a ajuda dos amigos, invadem a casa de Paquita e deparam-se com uma cena hedionda, com a marquesa e com uma revelação inesperada.
Ler esta obra foi definitivamente inquietante. A narrativa é ensombrada pelo pendor obsessivo do afeto de Henri por Paquita e o final da obra é muito perturbante. Estes aspetos, ao mesmo tempo que tornam a obra cativante, também, em minha opinião, saturam a leitura e monopolizam a abordagem do leitor que acaba por se focar mais na componente romântica do que no restante.
Destaco ainda, porque parece óbvio fazê-lo, a relação entre Paquita e a marquesa. Creio que deverá ter sido algo muito corajoso e inovador à época abordar assim a relação entre duas mulheres. Para além desse aspeto, a ideia de que a marquesa mantinha Paquita para seu deleite e quase em regime de escravidão é bastante singular e acresce ainda mais à obra a atmosfera de crueldade, cupidez e egoísmo que vigoraria nas altas sociedades de então.
Todavia, em minha opinião, a melhor parte desta obra é definitivamente o primeiro capítulo e tudo o que antecede o encontro de Henri com Paquita. É uma descrição francamente deslumbrante, porque assombrosa, da sociedade parisiense da época, com todos os seus defeitos e vícios. Está sempre subjacente a ideia de que vigora uma espécie de monopólio onde o mais importante é o ouro e o prazer, tudo o mais se vergando à conquista e ao alcance de ambos.
A Rapariga dos Olhos de Ouro está publicado em Portugal pela editora Relógio d’Água e é uma obra tão inquietante quando cativante.