“A República”, Platão
“Se acreditarem em mim, crendo que a alma é imortal e capaz de suportar todos os males e todos os bens, seguiremos sempre o caminho para o alto, e praticaremos por todas as formas a justiça com sabedoria, a fim de sermos caros a nós mesmos e aos deuses, enquanto permanecermos aqui; e, depois de termos ganho os prémios da justiça, como os vencedores dos jogos que andam em volta a recolher as prendas das multidões, tanto aqui como na viagem de mil anos que descrevemos, havemos de ser felizes.”
Eu costumo referir sempre no início de um novo post o porquê de ter escolhido ler a obra da qual estou a escrever a review. Desta vez não o vou fazer. Porém, posso dizer que já tinha vontade de ler esta obra há um tempo, de maneira que fiquei feliz de finalmente ter tido oportunidade, independentemente de outras razões.
A República é uma obra tão popular e importante que me sinto embaraçada e com receio de “sumariar”. Até porque, quer dizer, o que posso dizer? É um diálogo do século IV a.C, dividido em 10 livros e narrado por Sócrates, em que se discutem diversos aspetos e em que se apresenta uma proposta daquela que seria uma cidade ideal.
Não me parece de todo adequado eu dar aqui a minha opinião de uma obra desta envergadura, muito menos dado o facto de eu não ser de todo desta área, como tal, não estou nem de perto nem de longe, qualificada para o fazer. Além disso, provavelmente em função do facto da minha formação ser em literatura, eu sou frequentemente incapaz de ler um livro sem o romantizar, sem o ler como uma história. Não me acontece só com filosofia, acontece-me o mesmo em relação a obras de teoria, História, etc. Tenho noção de que isto me limita um bocadinho em questões de interpretação e me torna “tendenciosa”. Como tal, vou apenas destacar alguns temas da obra dos quais gostei particularmente.
O primeiro livro foi o meu preferido. Há uma discussão dos conceitos de justiça e injustiça que me fascinou sinceramente. Não tenho a arrogância para supor que entendi a totalidade do que aconteceu ali, mas que fiquei fascinada, fiquei. Até pela argumentação. Parecia um jogo para mim.
Gostei também muito da Alegoria da Caverna e do Mito de Er. Nesse ‘âmbito’, foram os meus preferidos. Já os conhecia, como é óbvio, mas é muito melhor lê-los. O mito de Er encantou-me particularmente. Toda a questão das almas, da justiça, do pagar pelos pecados e excessos, do renascer nas estrelas. É muito bonito. E o que dizer da Alegoria? Todos os estudos e discussões nunca vão ser o suficiente, apenas ‘sombras’.
Da mesma forma, também gostei muito do livro que tratava dos regimes políticos. A discussão acerca da oligarquia, democracia e tirania foi uma das minhas preferidas! Achei interessante ao ponto de ter pensado “não tinha visto isto desta forma, mas faz todo o sentido”.
O aspeto que “falou” mais comigo, foi, como provavelmente adivinham, a expulsão dos poetas da “cidade perfeita”. Com todo o respeito, mas que grande seca ia ser. E muito triste. Não obstante isso, entendi a ideia que se queria passar e concordo com ela. Em alguns casos, a literatura, especialmente a que é “mimética”, como se refere aqui, a que não representa a vida como ela é, a que idealiza e romantiza, pode, de facto, ter um efeito subversivo. Aceito isso. Porém, também faz falta, ou não? A vida já é tão triste e aborrecida. Imagine-se sem criatividade, sem a possibilidade de sonhar, de idealizar. Não são preferíveis as ilusões, as ‘mentiras’, as fantasias? Pode ser ‘perigoso’, é verdade. Francesca e Paolo, o efeito ‘Werther’, e bla bla bla. Mas e então? Eu, pessoalmente, prefiro tudo isso a um mundo sem poesia. E sem democracia e liberdade de escolha, já agora.
Além disso, expulsar os poetas e escrever uma obra destas, é para mim, uma ironia gigante. Daquelas das quais realmente apenas um filósofo é capaz.
Em suma, eu gostei muito da obra. Não foi algo que me apaixonasse, mas achei a leitura muito agradável. Terminei rápido, o que é bom sinal. E claro que recomendo a leitura. Nem é preciso dizer. Só o efeito e impacto que teve e tem no pensamento ocidental! Leiam e digam-me de vossa justiça! Já leram? O que acharam? Digam-me só uma coisa, não acham A República uma obra incrivelmente poética, ou fui só eu?
Idioma de leitura: Português
4/5