“Alice no País das Maravilhas”, Lewis Carroll
“Eu sabia quem era esta manhã, mas já mudei umas quantas vezes desde então”
Se bem se lembram, há umas semanas atrás fiz aqui a review de Peter Pan, uma das minhas histórias preferidas de criança! Nessa altura tinha mencionado que tinha também adquirido o volume de Alice no País das Maravilhas & do Outro Lado do Espelho. Está claro que já tinha lido este livro quando era mais miúda, mas decidi que precisava de ler a versão em inglês e, apesar de esta ser uma história que todos conhecem, não resisti a vir aqui falar dela!
Então, não há mesmo muito a sumariar, mas só para o bem do post, aqui fica: a pequena Alice certo dia decide seguir um coelho branco que vê passar por si a correr, cai pela toca do mesmo e, após uma eternidade em queda e um naufrágio em lágrimas, vai parar ao País das Maravilhas onde conhece as personagens que tanto celebrizaram a obra e que ainda perduram no nosso imaginário: o gato de Cheshire, o Chapeleiro Louco, a Lagarta Azul, a Duquesa e a Rainha de Copas, entre outras. E o resto, são aventuras!
Apesar de ter lido o livro quando era pequena, não é definitivamente a mesma coisa! Faz-me lembrar quando lemos O Principezinho quando somos miúdos e gostamos da história, porém não a compreendemos mesmo. Com Alice é o mesmo. Senti mesmo que estava a ler uma coisa completamente nova, entendem? Não estava de todo a ler o livro que tinha lido nos meus dias de miúda.
Há toda uma interpretação filosófica que está presente em cada página e que eu tenho a certeza que não só não é entendida pelas crianças, como também não é direcionada às mesmas. Pode parecer uma coisa irresponsável de se dizer, mas vou dizer na mesma: esta obra é mais para adultos do que para crianças. Até porque, se pensarmos bem, há certas coisas que só conseguimos perceber devido ao facto de já termos sido crianças e de já não o sermos. Parece uma espécie de obra sobre nostalgia de uma inocência perdida. Bem, não tenho a certeza de estar a ser clara, mas confio que entendem o que eu quero dizer.
E depois, estão aqui presentes preocupações que a criança não tem. Por exemplo, a fugacidade do tempo, a diferença e individualidade, a criatividade e sensibilidade, o medo de envelhecer e as saudades da inocência de tempos que não voltam mais, a moralidade, o certo e o errado, entre outros temas que não têm fim e dos quais podíamos passar uma vida a discutir e ainda não seria o suficiente. É assim que sabemos quando um livro é bom, não é verdade?
A minha edição conta também com Alice do Outro Lado do Espelho, que apesar de não ter abordado aqui, vale igualmente a pena ler. O esquema narrativo é semelhante e é claro para mim que muitos dos temas e preocupações também, o que muda é a forma de os expressar. A originalidade e inovação que Carroll conseguiu manter de uma obra para a outra é absolutamente impressionante e vale a pena mencionar. A maioria das edições de agora conta com as duas histórias pelo que se optarem por ler, está super acessível e eu aconselho mesmo muito.
A leitura em inglês foi um ótimo acrescento à experiência. Não só porque, naturalmente, numa tradução, por muito boa que seja, acabam sempre por se perder coisas, mas porque nesta obra existem muitos jogos de palavras e músicas que dependem muito das possibilidades do vocabulário. Então, se tiverem disponibilidade de ler no original, recomendo.
Em suma, há três coisas das quais tenho a certeza: a primeira é que esta obra deve ser lida por adultos e apenas “contada” a crianças; a segunda é que não entendo o porquê deste livro não ser estudado no ensino secundário e académico, pelo menos com mais frequência e profundidade; a terceira é que vocês (e toda gente) têm absolutamente de ler esta obra! E reler. É que tenho uma quarta certeza: tal como com Peter Pan ou O Principezinho, não interessa que leiamos o livro 200 vezes vamos sempre descobrir coisas novas, sobre a obra e sobre nós. Nunca vai ser a mesma coisa, confiem.
Idioma de Leitura: Inglês
5/5