“Assim falou Zaratustra”, Friedrich Nietzsche
Sou uma floresta e uma noite de escuras árvores: mas aquele que não temer a minha escuridão encontrará rosas debaixo dos meus ciprestes.
Se costumam acompanhar o blog sabem que sou uma grande fã de Nietzsche. Escrevi algumas reviews de obras dele aqui e não me canso de as ler. Estranhamente, fui deixando de lado Assim falou Zaratustra. A nossa tradução portuguesa, pelo que sei, está esgotada e, como infelizmente não consigo ler em alemão, só me restava ler noutro idioma. Enfim, estou satisfeita por finalmente ter conseguido. Há muito que o queria fazer.
Assim falou Zaratustra (1883-1891) diferencia-se significativamente em estilo e estrutura de outras obras de Nietzsche ou de filosofia. Foca-se nas viagens e nos discursos de Zaratustra que, como sabem, foi o fundador do Zoroastrismo. Não me parece que seja fácil resumir estes discursos porque variam em tom e tema, pelo que não o vou fazer, restringindo-me apenas a alguns temas principais de que eu gostei particularmente e que me parecem mais pertinentes no âmbito da cultura ocidental.
Neste âmbito, destaco a célebre declaração “Deus está morto” pela qual Nietzsche é recordado e que se insere no debate acerca da religião cristã, debate este que aborda ainda a dualidade bem e mal que caracteriza os valores desta religião e a crença na vida após a morte. Além disso, destaco a conceptualização daquilo que o autor chama “super-homem” (traduzo o termo a partir do inglês) e a abordagem da vontade de poder que tanto caracteriza a nossa natureza humana e que o autor abordou noutras obras.
Todavia, dou particular destaque a uma das minhas ideias preferidas na filosofia deste autor e na filosofia no geral: o Eterno Retorno. O eterno retorno baseia-se em algo muito simples mas muito assustador - a possibilidade de que todos os eventos que acontecem na nossa vida se repetem eternamente. Ou seja, nós, independentemente de tudo o resto, estamos mais ou menos presos num inescapável eterno retorno. É a aceitação desta condição - Amor Fati - o apreço pela vida e ausência de arrependimentos que caracteriza o “super-homem”. Infelizmente, o autor não chegou a completar e a escrever mais sobre este conceito. O mesmo conceito surge em O Mito de Sísifo de Camus (obra da qual já falei aqui no blog).
O Eterno Retorno vai ser sempre uma coisa que me deixa fascinada e incrivelmente triste. Gostei imenso de ler a forma como é aqui conceptualizado. Do mesmo modo, gostei extraordináriamente da ideia de um Deus morto pela era da Razão e das luzes; a deceção com as suas criaturas.
Não vou abordar mais este tipo de aspetos filosóficos porque como sabem, não gosto de o fazer por medo de passar alguma opinião ou informação de forma mais simplista. Digo apenas que este livro despertou em mim uma tristeza incrível e, simultaneamente, surpreendeu-me porque me parece que, de todo o desencantamento que transmite, passa para nós uma espécie de esperança que eu não encontro em outras obras do mesmo autor. Não fosse o estilo direto, cruo e tão irónico que distingue qualquer coisa que Nietzsche escrevesse, ficaria na dúvida se tinha sido a mesma pessoa que escreveu esta obra a escrever todas as outras. Se leram este livro e se leram outros de Nietzsche, podem dizer-me se sentiram o mesmo?
Gostei mesmo muito de Assim falou Zaratustra. Genuinamente. Facilmente se tornou o meu segundo livro preferido deste autor. Ainda me falta ler Will to Power, mas não sei se me vai impressionar tanto. Suponho que descobriremos em breve. Até lá, recomendo-vos Assim falou Zaratustra.
Idioma de Leitura: Inglês
5/5