“Cartas de Aniversário”, Ted Hughes
Nobody wanted your dance,/ Nobody wanted your strange/ glitter, your floundering/Drowning life and your effort/ to save yourself,/Treading water, dancing the/ dark turmoil,/Looking for something to give.
Nunca tinha lido nada de Ted Hughes mas, como muitas pessoas, gosto muito da obra daquela que foi sua esposa, Sylvia Plath. Aliás, há uns tempo lembro-me de ter falado aqui da sua obra Ariel. Foi através de Sylvia Plath que cheguei até Ted Hughes e decidi ler esta sua coleção de poemas.
Birthday Letters (1998), em Portugal a edição chama-se Cartas de Aniversário, é uma coleção de poemas. Estes poemas são inspirados em Plath, na sua vida e na relação do casal. As temáticas e os tons variam, claro está. Há poemas que são baseados em momentos específicos, outros que são mais subjetivos. No fundo, o molde é sempre o mesmo e cada poema funciona como uma carta.
Um dos aspetos que queria destacar relaciona-se exatamente com esse aspeto. Embora muitos dos poemas estejam realmente redigidos como se direcionados a um interlocutor, como se fossem uma carta, às vezes parecem mais um diário. Uma exposição de como foi a vida conjunta do casal que, como sabemos, foi provavelmente um dos mais trágicos, senão o mais trágico, da literatura. Talvez também por isso a obra seja dedicada aos dois filhos que tiveram. Não me parece que alguém vá algum dia saber exatamente o que aconteceu realmente naquela relação, embora existam mil e uma suposições. Mas como Hughes destruiu o diário dos últimos meses de Plath, os únicos relatos que sobram são as obras de ambos.
Para mim, algo muito significativo nesta obra foi o facto de apresentar uma versão de Hughes. Verdadeira ou falsa pouco interessa, sinceramente. Plath é uma autora muito popular, sobretudo em função das muito conhecidas e exploradas trágicas vicissitudes da sua vida. Lemos Ariel e The Bell Jar (A Campânula de Vidro em traduções portuguesas) e experienciamos sempre uma mistura de sentimentos. Quando nos apercebemos do cariz autobiográfico da obra, percebemos o quão triste deve ter sido a existência dela. Neste âmbito, ler Birthday Letters é muito importante porque nos dá a outra perspetiva. Estar triste, estar deprimido, ter problemas emocionais é muito difícil, não está em causa, mas o quão difícil também deve ser ver alguém de quem gostamos muito assim? O quão difícil deve ser lidar com alguém que se sente desse modo? Tendemos sempre a pensar e a criar empatia com a pessoa que está mal, mas então e as pessoas que estão ali com ela? Creio que esse é o aspeto mais significativo de Birthday Letters, independentemente da nossa opinião em relação à responsabilidade ou não do autor na vida e nas escolhas da esposa e se considerarmos a obra de modo imparcial.
Ainda em relação ao que os poemas nos dizem sobre Plath, gostava de sublinhar que nos apresentam a autora não só como autora e mulher, ou sequer como esposa, mas também enquanto filha e mãe. Uma curiosidade interessante é que, se a relação da autora com o pai é nos poemas dela vastamente abordada, aqui ocorre o mesmo.
Em relação aos poemas em si, não tenho uma opção de comparação. Como vos disse, nunca tinha lido nada de Ted Hughes. Não obstante, fiquei muito bem impressionada. Talvez também por me sentir próxima do tema, talvez por ter sentido alguma empatia com o autor, talvez por serem relativos a algo que foi real, talvez por gostar muito de Sylvia Plath. E talvez também por tudo isso, outros leitores possam sentir o mesmo ao ler Birthday Letters. Do ponto de vista formal, dos poemas enquanto poemas, não tenho muito a dizer. Pelo que li, esta coleção foi, aquando da sua publicação, considerada pela crítica como a melhor obra do autor mas, não tendo lido mais nada dele, não posso ter uma opinião própria. Existe em Portugal uma tradução da obra editada pela Relógio d’Água.
Gostava também e por fim, de notar um outro aspeto. Como puderam observar, eu fiz uma coisa neste post algo injusta. Anunciava eu no título que iria escrever sobre Ted Hughes e Birthday Letters e pois bem, escrevi mais sobre Sylvia Plath. Podia dizer “bem, os poemas são sobre ela” ou “eu li porque sou primeiramente admiradora dela”. Mas não deixa de ser, de certo modo, algo injusto. E menciono este aspeto para notar que acho que isto é algo que deve ocorrer muito com Ted Hughes, às pessoas que o leem. Penso que podemos genericamente concordar que Plath possui atualmente uma projeção que Hughes não tem. Não estou a dizer que ele não é, ou não foi, um poeta reconhecido, porque obviamente não é o caso. Sabemos que foi um dos poetas mais célebres do século XX. Estou somente a mencionar que, neste momento, é mais fácil alguém chegar a ele via Plath do que por outra via qualquer. O que não ocorre ao contrário. Claro que a dimensão da projeção de Plath ou o impacto da romantização de que ela e a sua obra foram alvo são aspetos discutíveis. Todavia parece-me a mim muito inadequado que agora alguém faça isto que eu fiz, que é ler uma obra de Ted Hughes em função da pessoa com quem ele foi casado. Não ficaria nada incomodada se fosse só eu, mas como tentei explicar o que me impressiona é que, hoje em dia, este é um hábito comum. Mas esta é, claro está, uma opinião muito própria. Qual é a vossa? Já leram algo de Ted Hughes? Também são admiradores de Sylvia Plath? Também vos impressiona a história deste casal? Ficaram com vontade de ler Birthday Letters?