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A Outra Menina Bennet

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13
Abr20

“Dubliners”, James Joyce

Sofia

“Um por um, estavam todos a tornar-se sombras. É preferível partir para aquele outro mundo de forma arriscada, na completa glória de alguma paixão, do que desvanecer e murchar tristemente com a idade”

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Pessoalmente e enquanto leitora, gosto muito de James Joyce e da sua obra. Ulysses é um dos meus livros preferidos de sempre e devem existir poucas entidades literárias de que goste tanto ou que me fascinem tanto quanto este autor. Então, quando pensei nos livros que queria ler este ano coloquei na "lista" dois livros de Joyce, tendo este sido o primeiro que consegui comprar e ler. 

 

Dubliners (1914) é uma coleção de 15 contos que seguem cidadãos de Dublin. No fim, a obra acaba por funcionar como um retrato da classe média irlandesa que surge representada por diferentes pessoas, diferentes ambientes, diferentes histórias. Todas juntas surgem como esta tal representação de uma sociedade que, apesar de ser especificamente situada no tempo e no espaço, acaba por ser também transversal a eles. 

Como se tratam de diversos contos que não tem qualquer tipo de ligação entre si, é muito difícil resumir a obra além disto pelo que aproveito apenas para, à semelhança do que fiz no post sobre Tales of Ordinary Madness de Bukowski, vos falar de alguns dos contos de que mais gostei. “Araby” e “The Dead” foram talvez os meus preferidos.

“Araby” segue um jovem que está apaixonado. Para mim, que mais sobressai no conto é o sentimento do narrador e a idealização do objeto desejado. Existe no conto uma clara oposição entre a realidade e a imaginação que acaba por culminar num desencantamento que contribui para o amadurecimento do personagem e que ilustra as consequências da idealização e da romantização. Sei que gostei imenso do conto devido precisamente a este aspeto, ao diálogo constante entre a sensibilidade e a razão que acaba, a certo ponto também por ser um símbolo da oposição entre duas tradições estéticas. 

“The Dead” gira à volta de um protagonista e das relações e interações dele com as pessoas à sua volta. É o conto mais longo e eu gostei particularmente dele pelo seu final onde o narrador reflete acerca da efemeridade da vida e dos momentos que vão dar lugar às memórias que nos ocupam até deixarem elas também de existir. Gostei, além disso, especialmente do momento que desencadeou esta reflexão. O protagonista ouvira a esposa falar sobre o seu primeiro amor e foi exatamente isto e a estranheza da vida que ela tivera antes de estar com ele e que ele nunca considerara que pudesse ter existido que o conduziu à reflexão acerca da importância das pessoas na vida de alguém e da forma como essa importância se perde e tudo se torna apenas em memórias.  

Uma coisa que notei é que quase todos os contos incluem uma espécie de viagem que termina sem conclusão, isto é, é em vão. E conto isto porque acho muito simbólico, tanto da obra como daquilo que ela pretende representar. 

Achei que podia fazer sentido falar de alguns contos a título de exemplo e destaquei estes dois porque, realmente, foram os meus preferidos, o que não quer dizer que eu ache que sejam melhores ou piores que qualquer outro, até porque, no geral gostei muito de todos. 

Não tenho a certeza deste livro estar traduzido em português. Eu li a versão original e vejo-a com frequência à venda em diversas livrarias. Esta foi uma leitura da qual, como podem calcular, gostei imenso. É muito interessante sob todos os pontos de vista e se ficaram com curiosidade ou se gostam do autor ou do estilo, recomendo-vos! 

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Mais sobre a Sofia

Estudante de Letras. Romântica Incurável. Perdida algures num sonho. Apaixonada por livros, chá, contos de fadas, tragédias e chuva. Entre Flores & Estrelas.

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