“E Tudo o Vento Levou”, Margaret Mitchell
“Não posso pensar nisso agora. Se o fizer, enlouqueço. Pensarei nisso amanhã. Então, vou conseguir suportá-lo. Afinal, amanhã é um novo dia."
E Tudo o Vento Levou é um clássico. Clássico do cinema, mas sobretudo clássico da literatura. Se vos disser quantas vezes, nos meus 22 anos me preparei para o ler ou para o ver e não o fiz, não acreditariam. O filme tem mais de 4 horas, o livro mais de 1000 páginas. Estão a perceber? Este verão, numa tarde em casa disse a mim mesma, de hoje não passa. Vi o filme. Vai parecer-vos exagerado, mas foram das 4 horas mais gloriosas e bem passadas da minha vida. Quando acabei o filme, abri a internet e mandei vir o livro. No sábado passado acabei de o ler, ao fim de 2 semanas. Das melhores da minha vida. Nunca me perdoarei por não ter lido este livro mais cedo.
E Tudo o Vento Levou, mais do que contar a história de amor, pela qual toda a gente o conhece, conta a história de toda uma civilização em queda e declínio, em guerra e transformação. A história dá-se na altura da Guerra Civil Americana entre 1861 e 1865, que como vocês provavelmente sabem opôs o Norte aos Sul dos Estados Unidos. Em causa estava a cultura esclavagista que uns queriam prolongar, e outros abolir. Com este pano de fundo, nasce e desenvolve-se a história do trágico, condenado, e destrutivo amor de Scarlett O’Hara e Rhett Butler. Eles conhecem-se num churrasco, no dia antes de rebentar a guerra. Rhett surpreende Scarlett quando esta se declarava àquele que achava, e continuou a achar até às últimas páginas do romance, ser o amor da sua vida – Ashley Wilkes – que se preparava para casar com Melanie Hamilton, sua prima. A partir destas primeiras páginas, e a partir desta premissa nasce a segunda maior história de amor sobre a qual já li.
Com o fim da guerra, e ao fim de 2 casamentos, Scarlett casa com Rhett. Deixando claro desde início que não está apaixonada por ele. Para lhe fazer justiça, até ao final, ele também nunca lhe diz que estava apaixonado por ela. Mas também não precisava. Há coisas que simplesmente se sabem, estão implícitas em cada ato.
Vocês sabem que a minha parte predileta de um livro é sempre o romance e a história de amor. No entanto, ao fazer uma review deste livro, não vos posso deixar de falar da outra parte incrível desta história. A história de como uma civilização, com toda a sua poderosa sociedade e todos os seus costumes seculares, cai. Mas sobretudo, de como essa queda afeta as pessoas. Como as pessoas foram para a guerra lutar por uma causa que já estava perdida. Como outras pessoas se aproveitaram da guerra para prosperar. Como milhares de pessoas passaram fome e ficaram sem casa. Como morreram os homens que faziam uma nação. Como as suas mulheres os choraram e os seus filhos idolatraram pais que nunca conheceram. Para no final, se poder dizer que morreram milhares de pessoas por nada. Porque foi isso que aconteceu. A maioria dos homens que foram lutar nesta guerra sabiam que ela estava perdida antes de começar. Alguns deles nem acreditavam na causa que defendiam. Porque o fizeram? Honra? Estatuto? Reputação? Prestígio? Quantas pessoas morreram, quantas mulheres ficaram sem marido, quantas crianças sem pais? Tudo por uma causa perdida? Chamem-me ingénua, mas não valeu o esforço.
Há duas frases que estão no livro que me marcaram profundamente. A primeira foi uma vez que Rhett, que ganhou milhões com a guerra, disse a Scarlett que as duas melhores ocasiões para enriquecer eram o ascender de uma civilização, ou o declínio de uma civilização. A segunda coisa foi, que quando uma guerra acaba, as pessoas nem se lembram porque é que ela começou. Ideias atuais, não?
Não posso ainda deixar de fazer uma referência a Scarlett, a senhora mais forte sobre a qual já li. Vocês não têm noção das coisas pelas quais ela passou ao longo do romance. Foi incrível. Acho que não houve nada que não lhe acontecesse. Amor não correspondido, casamento sem amor, casamento por dinheiro, ficar com o homem da própria irmã para salvar a família da desgraça, fome, medo, tentativa de esturpo, morte de uma filha, aborto, tentativa de prostituição, assassinato, fuga por terras rebeldes em plena guerra, criação de um negócio próprio que lhe custou a reputação, causa indireta da morte de um marido, acusação de adultério, até um parto ela fez sozinha. Tudo tudo tudo. E ela nunca se foi abaixo. Levantou-se de todas as vezes e continuou a olhar em frente, recitando o seu famoso mantra “não vou pensar nisto agora, vou pensar amanhã quando conseguir aguentá-lo". Sinceramente, quero ser como ela quando for grande. Ela é a minha nova heroina preferida. As coisas que ela fez para sobreviver, para ajudar os seus a sobreviver, a maneira como aguentou todas as adversidades, a maneira como nunca deixou de lutar por aquilo que queria, não interessa por cima do que é que tivesse de passar... é absolutamente incrível. Por isso eu sei que, no final do livro, quando ela diz que vai conseguir reconquistar o homem que ama, e que jura que já não a ama a ela, eu sei que ela vai conseguir trazê-lo de novo para ela. Afinal, ela é a Scarlett O’Hara. Não há nada que esta senhora não consiga.
Agora, a história de amor. Linda, linda, linda. A segunda melhor de sempre na minha opinião. Vou ser muito honesta, ao logo do romance já me enervava o facto da Scarlett ser tão teimosa e continuar fixa na ideia de que estava apaixonada pelo Ashley. Qualquer pessoa via que não era verdade. Acho que ele também teve culpa, pois não deixava nunca de incentivar as esperanças dela, mesmo tendo aquela aborrecida honra que protegia o seu casamento. Para mim é óbvio que não só a Scarlett tinha razão no final, quando admitiu que nunca tinha amado o Ashely, mas sim uma ideia dele que ela tinha criado, como também me atrevo a dizer que ela só o queria porque não o podia ter. Quando ela o podia ter, finalmente percebeu que não o amava, que ele não sentia amor por ela, mas apenas desejo, quando ela teve a magnifica revelação de que amava o Rhett, foi o meu dia preferido nas 2 semanas que levei a ler o livro. Tenho tanta pena que ela tenha desperdiçado anos da vida dela, e anos com o Rhett, com essa ideia absurda de que amava o Ashley. Porque vamos ser sinceros, desde o momento em que vimos a Scarlett e o Rhett juntos naquele churrasco todos soubemos que eles pertenciam um ao outro. O Rhett sempre soube isso. E sempre agiu como se estivesse apaixonado. E, se formos honestos, temos de ver que ela também sempre agiu como se estivesse apaixonada. Porque ela estava. Só não sabia nem queria, e como tal não o podia admitir. Sinceramente não é só ela que tem culpa. O Rhett não sabia lidar com ela tão bem como pensava. Acho que o problema deles desde o início foi a comunicação e o orgulho sem precedentes ou limites. Poderiam ter sido as pessoas mais felizes se falassem e se entendessem como pessoas racionais. Mas o amor impede-nos de sermos racionais, não é? Acho sinceramente que se eles não se amassem tanto, podiam ter sido felizes desde o início. Porém, não seria o mesmo, pois não? Ninguém quer ler sobre isso! Ninguém escreve livros ou sonetos ou músicas ou filmes sobre amores felizes, pessoas compatíveis, e objetivos idênticos. As melhores histórias de amor são as condenadas, as destrutivas e impulsivas, as primitivas e loucas e tóxicas e selvagens. Estou errada?
E Tudo o Vento Levou foi o melhor livro que li este ano. Foi dos melhores livros que li em todos os meus 22 anos, e algo me diz que é um dos melhores livros que vou ler em toda a minha vida. Neste momento, entrou diretamente para o segundo lugar no meu top de melhores livros de sempre, e a história do amor condenado de Scarlett e Rhett é também agora a minha segunda preferida de sempre. Perde para quem? O Monte dos Vendavais e a também trágica história de amor de Catherine e Heathcliff. Se bem que, estão muitos próximos um do outro. Se não fosse o afeto que tenho pela história de Emily Bronte devido à influência que teve em mim e na minha vida, diria que a obra dela e a de Mitchell partilham o primeiro lugar.
Mas já me alonguei muito, não foi? Fico sempre assim quando estou a falar, escrever ou pensar, em coisas que me movem tão completamente. Esta deve já ser a maior review que escrevi aqui no blog. Tenho de parar!
Dito isto, não preciso de mencionar mais nada, pois não? Guardarei esta história comigo enquanto viver. Vou questionar-me para sempre como Margaret Mitchell foi capaz de criar isto. Vocês têm de absolutamente ler E Tudo o Vento Levou. Eu sei, é longo, mas por favor, não se vão arrepender. Juro. É tão magnifico, glorioso, profundo. Não é só uma história de amor, não é só uma história sobre uma civilização que se foi com o vento, é uma história sobre a humanidade. É completamente imperativo lê-la. Por favor! Não se vão arrepender. Quem me dera poder fazer toda a gente ler este livro. Não tenho mais palavras para vos escrever sobre isto. Peço apenas que percam um tempo a ler este livro, e peço também que não se coibam de me dizer o que acham dele. Boa leitura!
Idioma de Leitura: Inglês
5/5