“Escola de Mulheres”, Molière
É preciso reconhecer que o amor é um grande professor. O que não sabemos, ele ensina-nos.
Confesso que o principal fator que me impeliu a ler este livro foi o título, L´École des femmes, e, se não o tivesse por acaso visto à venda, provavelmente não me lembraria espontaneamente de o ler. Gosto muito de Molière, mas realmente não conhecia esta obra. Todavia, assim que a vi percebi que seria o tipo de obra da qual gostaria.
L'École des femmes (1662) é uma comédia em cinco actos protagonizada por Arnolphe, um homem na casa dos quarenta anos que pretende casar-se com Agnès, uma jovem de dezassete anos que educara desde os quatro. Um crítico da vida conjugal, Arnolphe educara Agnès com o intuito de fazer dela a esposa perfeita, daí o título da obra. O resultado esperado seria que Agnès fosse demasiado ignorante para sequer se lembrar de contrariar, contestar, argumentar ou enganar o seu marido. Todavia, tal esforço mostra-se ineficaz porque, mesmo educada neste contexto, Agnès acaba por se apaixonar pelo jovem Horace que, ironicamente acaba por tomar Arnolphe como seu confidente. Arnolphe inicia então uma missão para afastar os dois jovens apaixonados e garantir a sua união a Agnès.
Claro que a ironia principal acaba por ser o facto de Arnolphe se preocupar tanto em educar Agnès para esposa perfeita e se esquecer da vertente sentimental. Por muito que ela seja educada e por muito que a razão pese, a componente emocional acaba por prevalecer e de nada serve a Arnolphe que Agnès seja uma esposa perfeita se, estando apaixonada por outro, não quer casar com ele.
Um dos meus momentos preferidos na obra é sem dúvida o momento em que Arnolphe oferece a Agnès uma obra com máximas compiladas intitulada “Les Maximes du Mariage Ou les devoirs de la femme mariée” que, realmente, segue o estilo dos livros de conduta com imensos conselhos que almejam tornar a jovem senhora numa esposa complacente e submissa. Parece inacreditável que alguém seguisse realmente este tipo de conselho, mas a verdade é que, como sabemos, estes conselhos foram outrora regra. O que me impressiona é que, numa época em que muitas atitudes destas eram ainda valorizadas, Molière tivesse conseguido com que fossem expostas de forma a mostrar o quão inapropriadas, de facto, eram.
No mesmo âmbito, a própria existência da obra remete para isso, não vos parece? Existia a consciência de que este tipo de atitude era inapropriado, caso contrário o público não descortinaria a ironia, não riria e, consequentemente, a obra não teria tido o sucesso que teve e que, com efeito, foi significativo. Creio que isso é prova da capacidade do próprio autor e justificação para a sua popularidade.
Entretanto e em jeito de conclusão, descobri que Bergman realizou em 1983 uma adaptação da peça para a televisão e estou a ver-me a passar os próximos tempos na busca desta adaptação! Conhecem?
Enfim, há muito tempo que não lia Molière. E, como vos disse, se não tivesse por acaso visto esta obra à venda, não sei quando me lembraria de voltar a ler algo deste autor. Mas ainda bem que vi. Gostei tanto de ler L´École des femmes! Foi uma agradável mudança em relação às últimas obras que tenho lido. Em registo mais do que em tema. Até porque eu não costumo muito ler comédia e talvez por isso seja mais esquisita neste campo. Em suma, recomendo-vos muito L´École des femmes! Já leram?