Este Lado do Paraíso - F. Scott Fitzgerald
Não é a vida que é complicada, é o esforço para a conduzir e para a controlar.
Se leram o post de há umas semanas sobre Terna é a Noite, recordam-se de vos ter então escrito que tinha iniciado a minha missão de ler as obras que me faltavam ler de Scott Fitzgerald. Esta semana aproximo-me do objetivo escrevendo-vos sobre a primeira obra de Fitzgerald.
This Side of Paradise (1920) está dividido em duas partes e acompanha o jovem Amory Blaine. Grande parte do foco da obra acaba por ser o crescimento individual de Amory, a sua educação e as suas relações amorosas. Há um grande destaque para o modo como a educação, sobretudo literária, influencia o modo de agir e pensar de Amory e a forma como ele se relaciona com aqueles que o rodeiam. Nesse âmbito, acabam por ser de significativa importância as ligações românticas que ele estabelece com algumas jovens que vai conhecendo. Aqui, cada uma delas acaba por fazer um paralelo com uma tradição especifica e, como aparecem em momentos concretos da vida de Amory, acabam por sublinhar a sua evolução. Além deste aspeto, destaque para o estatuto social e para a busca deste.
Em relação ao aspeto romântico e, sem querer dar spoilers acidentalmente, destacaria apenas uma das jovens que cruza a vida de Amory - Rosalind. Este relacionamento, o mais sério e genuíno, parecia ser idílico, ambos reagem e consideram o fenómeno amoroso de uma forma muito semelhante e literária. No entanto, não obstante esta ser a relação mais séria e constante de Amory, não dura precisamente porque uma das partes acaba por perceber que tudo aquilo era demasiado romanesco para vingar no mundo real da razão e do bom-senso.
Confesso que acabei por gostar mais do espaço dado às reflexões e ao crescimento pessoal e intelectual de Amory do que propriamente das linhas românticas da narrativa. Gostei sobretudo da parte final da obra. É um diálogo entre Amory e o pai de um ex-colega e é extraordinário.
Como sabemos, This Side of Paradise é popular pelo retrato da chamada lost generation. E realmente, esse é o aspeto que mais destaco. É um retrato que tanto me pareceu deslumbrante como triste, o que, creio, seria o objetivo do autor. Este retrato fez-me muito lembrar uma certa ingenuidade que todos temos a certo ponto, que nos é tão cara quando a perdemos e que provoca aquela nostalgia tão grandemente romantizada. Há uma passagem a esse propósito na obra em que Amory diz qualquer coisa como “não quero a minha inocência de volta, mas apenas a possibilidade de a voltar a perder”.
Terna é a Noite, como vos escrevi anteriormente foi a última obra de Fitzgeral, já Este Lado do Paraíso, foi a primeira. Lembro-me de ter assinalado no post relativo a Terna é a Noite, as semelhanças com O Grande Gatsby. Agora assinalo as diferenças. This Side of Paradise é bastante diferente das outras duas obras, e não só em termos do enredo principal. As únicas duas semelhanças são, a meu ver, a preocupação em acompanhar da evolução pessoal do protagonista e o tal efeito Fitzgerald de que já vos falei, aquela espécie de nostalgia glamourosa que inunda qualquer coisa que o autor escreva. De resto, são obras bastantes diferentes.
Gostei muito de This Side of Paradise e, claro, é inevitável não comparar, involuntariamente, esta com as outras duas obras que mencionei do autor. Creio que, muito devido o meu gosto pessoal e a uma maior facilidade de identificação, acabei por gostar desta obra de um modo diferente. Também por ela acabar por ser bastante diferente das outras duas, como vos mencionei. Sei que, como Terna é a Noite, Este Lado do Paraíso acaba por ser muitas vezes ofuscada pelo sucesso e pela popularidade de O Grande Gatsby, mas é realmente uma obra extraordinária que vale muito a pena ler. E como acaba por ser diferente das outras obras, mas mesmo assim semelhante em termos de estilo, é uma escolha de leitura muito interessante e que vale francamente a pena. Já leram? Qual a vossa opinão?