“Ethan Frome”, Edith Wharton
O regresso à realidade foi tão doloroso quanto o regresso à consciência depois de uma anestesia.
Nunca tinha lido nenhuma obra de Edith Wharton além de A Idade da Inocência, provavelmente um dos meus livros preferidos. Decidi ler Ethan Frome muito por essa razão e, como me deparei há pouquíssimo tempo com a obra, decidi avançar.
Ethan Frome conta, do ponto de vista de um narrador na terceira pessoa, a história de Ethan Frome, envolto num triangulo amoroso entre Zeena, sua esposa, e Mattie, prima de Zeena a viver com o casal. Zeena está doente e assim se justifica a presença de Mattie na casa de Ethan e Zeena, bem como a relutância de Ethan - apaixonado por Mattie - em deixar a esposa. Mas Zeena prepara-se para mandar a prima embora, o que privará Ethan e Mattie da presença um do outro. As breves páginas desta obra ilustram o dilema de Ethan, dividido entre emoção e razão, entre aquele que é o seu dever e aquela que é a sua vontade.
Uma das coisas que mais notei nesta obra foi, estranhamente, uma espécie de sensação de claustrofobia que ela me provocou. Penso que isto pode advir de uma dimensão de certo modo psicológica da obra. O dilema de Ethan é exposto de uma forma tal que somos levados a desenvolver empatia em relação a ele. Além disso, para este sentimento contribui o facto de que, cada vez que pensamos que este dilema está prestes a resolver-se, a bem ou a mal, surge sempre um novo obstáculo ao seu desenlace. O final da história é o melhor exemplo disso.
Este fim, para mim, valeu pelo livro inteiro. Não vou dar spoilers, mas gostaria de dizer que penso que ele funcionou muito bem, sobretudo porque a autora resistiu a dar ao leitor aquilo que ele poderia preferir em função do mais verossímil ou do mais adequado ao texto. Acho que essa é sempre uma escolha difícil para qualquer autor. Até pela própria empatia em relação ao texto.
Como podem perceber, aquilo que mais apreciei foi, sem dúvida, a componente filosófica e o enredo psicológico. Mais do que qualquer aspeto técnico ou estético. Além disso, destaco ainda um certo fatalismo que torna a obra interessante e que contribui, claro, para o tal sentimento de claustrofobia que mencionei.
Não posso dizer que tenha achado Ethan Frome uma leitura espantosa ou que tenha adorado ler a obra. Até porque, até quase ao fim, não estava muito entusiasmada ou especialmente cativada. Todavia, penso que é uma daquelas obras que às vezes gostamos mais depois de as terminarmos e quando voltamos a pensar nelas, do que propriamente quando as estamos a ler. Além disso, satisfiz a minha curiosidade de ler outra obra desta autora.
Sei que existe pelo menos uma tradução de Ethan Frome para o português. Recordo-me de já a ter visto algures numa livraria. A versão original é muito comum e conta diversas edições. O livro em si é muito pequenino e é realmente um daqueles livros que se leem num dia. Adicionalmente, lê-se muito bem pelo que, se a história vos interessar, é uma ótima opção de leitura!
Já leram? Que outras obras conhecem e/ou recomendam de Edith Wharton?