“Guerra e Paz”, Lev Tolstoi
“Tudo o que sei, sei-o por causa do amor”
Vocês podem não acreditar, mas há anos que eu queria ler este livro. Li Anna Karenina de Tolstoi quando tinha 14 primaveras cumpridas e apaixonei-me! Anna Karenina, acreditem se quiserem, é o meu segundo livro preferido de todos os tempos (sim, tenho um ranking). Quando acabei esse livro, pesquisei tudo sobre Tolstoi, até fiz um trabalho para a escola sobre ele. Estava fascinada. Descobri nessa altura que Tolstoi escrevera também esta obra. Não li logo Guerra e Paz por uma razão muito simples: a obra era tão longa que se encontrava naquela altura dividida em 4 ou mais volumes, e sim, tive preguiça ou melhor fiquei desmotivada. Este ano que passou, deparei-me com uma nova edição da Saída de Emergência que dividia a obra em apenas dois volumes. Enchi-me de coragem e motivação e cá estou eu.
Demorei cerca de um mês a ler as mais de 1000 páginas dos dois volumes de Guerra e Paz, o que explica porque não tenho aparecido por aqui. Esta demora é estranha em mim que costumo ler cerca de 2 livros por semana. Mas falando de Guerra e Paz.
A obra retrata a sociedade russa durante o período das invasões napoleónicas, focando-se obviamente em determinadas personagens das quais eu destacaria Pierre, Nicolas, Natasha e Maria. Isto só de si já é uma grande generalização porque em Guerra e Paz, Tolstoi juntou mais de 500 personagens. É muito difícil escolher uma só linha de narrativa, como podem calcular, no entanto, parece-me que estas personagens e as suas histórias (que até se entrelaçam entre si) são as mais recorrentes.
Há uma coisa que eu tenho de dizer e deixar como que aviso: a obra está repleta de referências históricas e de descrições do tempo de guerra originado devido às invasões de Napoleão. É quase impossível ler este livro sem se estar previamente ocorrente do contexto em que a história se insere. Não aconselharia ninguém que não possuísse noções básicas sobre este período da história a ler Guerra e Paz.
Até porque esta obra tende a tornar-se muito “massuda” e até “entediante” (não é a palavra indicada, mas à falta de melhor…) devido exatamente ao relato incessante do tempo de guerra com focalização em personagens do exército russo e nos imperadores que ocupam muitas muitas muitas páginas da obra.
Isso para mim, foi o mais “desagradável” da obra, e confesso que não estava preparada para tal. Na verdade, eu sou muito fã dos clássicos, e o meu gostos pelos mesmos deve-se sobretudo ao retrato que eles apresentam da sociedade. Este retrato sempre foi o que me fascinou e atraiu para os clássicos. Então, é óbvio que quando comecei Guerra e Paz era disso que estava à espera. Estava à espera de algo semelhante a Anna Karenina. Não correu bem.
Guerra e Paz oferece, como é óbvio, um retrato da sociedade russa exímio e muito bem conseguido, porém retratar a sociedade não me parece que tenha sido o objetivo de Tolstoi. Provavelmente o autor quis focar-se mais na guerra e no retrato e impacto da mesma. O retrato da sociedade e o drama da mesma pelo qual eu esperava tão ansiosamente pareceu-me relegado para segundo plano. Talvez seja por isso que o livro é classificado como um romance histórico e não somente como um romance.
Claro que eu sabia disso, mas tal facto não me demoveu da minha vontade de ler a obra. Porém influenciou a maneira como a encarei e o modo como a li. Não é que não tenha gostado, é só que não faz o meu tipo.
Concordo que é uma grande obra, óbvio que está maravilhosamente bem escrita, com certeza que merece a aclamação e lugar no cânone que tem, mas não é uma obra que queira ler outra vez. Curiosamente, um colega meu da faculdade, quando me viu com o livro debaixo do braço, disse-me que Guerra e Paz tem de ser bem lida porque é uma obra que só se lê uma vez na vida.
Há ainda algo que tenho de destacar muito pela positiva. Há imensas e geniais reflexões filosóficas sobre tudo e mais alguma coisa. Mesmo. É lindo, é grandioso, é magnífico. Para mim, estas constituíram uma grande mais-valia na obra, e foram definitivamente uma das minhas características preferidas da mesma.
Em suma, tenho de dizer que só aconselho esta obra a quem apreciar romance histórico ou a quem, como eu, for fã de Tolstoi. Caso contrario, esta obra pode tornar-se de leitura complicada. No entanto estou tão feliz de a ter lido! Chamem-me tonta, mas depois de a ter lido, sinto que sou muito mais culta, a nível literário pelo menos. No meio de tantas outras grandes obras clássicas do cânone, Guerra e Paz estava a faltar na minha biblioteca. Agora a minha biblioteca está mais completa e eu mais culta.
Idioma de leitura: português