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A Outra Menina Bennet

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24
Mar20

“Histórias de Loucura Normal”, Charles Bukowski

Sofia

Os nossos pecados são criados no paraíso para originar o nosso próprio inferno.

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Lembro-me que o primeiro livro que li de Bukowski foi Música para Aguardente. Lembro-me de ter ficado bastante impressionada, talvez mais chocada do que impressionada, compreendo agora. Desde então, nunca li mais nenhum livro deste autor, com exceção de um conto aqui e ali. Surge sempre algo que sinto mais inclinação para ler ou simplesmente não me lembro. Mas há um tempo encontrei a versão original desta obra e pensei, porque não?

 

Histórias de Loucura Normal é uma coleção de contos e por isso, não pode ser resumida. Mas isso também não é preciso para alguém que costuma ler, ou alguma vez leu, algo de Bukowski. É mais do mesmo, sinceramente.

Poderia destacar vários contos de que gostei particularmente, mas para não me alongar vou apenas mencionar-vos “Animal Crackers in my soup”. Se tivesse de dizer porque gostei mais deste do que de qualquer outro não saberia explicar, mas sei que foi o que produziu uma impressão mais forte em mim. É essencialmente sobre uma mulher, Carol, que tem um zoo e vive com todos estes animais exóticos com os quais tem relações estreitas e , no mínimo, bizarras. Ela e o narrador “apaixonam-se” e começam a ter toda esta existência à parte da restante sociedade que, claro, olha para aquela situação de lado. Sabem que eu não gosto de dar muitos detalhes sobre as histórias para o caso de quererem ler. Mas digo-vos que este conto em particular é muito estranho, mas muito alegórico e extraordinariamente cativante, de uma forma inquietante.

Sei que Bukowski vai sempre ser um caso contraditório que levanta opiniões diferentes e geralmente bastante opostas, tanto a nível da crítica especializada como da cultura popular. Sinceramente nunca vou perceber bem porquê, mas já me habituei a que ele seja um destes autores de que, ou se gosta muito ou não se gosta nada. Por estranho que pareça, a mim é-me ligeiramente indiferente. Gosto mas não adoro. Lê-se bem, mas não é algo que desperte em mim um desejo de ler só porque sim. Não me incomoda, não me faz refletir sobre nada em particular, é só literatura.

Não obstante, quer gostemos ou não, acho que há algo em que ninguém lhe pode retirar mérito. Bukowski romantizou um tipo de pessoas às quais nunca ninguém sequer deu importância. As nossas sociedades, e consequentemente, a nossa literatura, não são só compostas por pessoas finas, por aristocracias, pela burguesia, por heróis pobres e órfãos, por detetives sobredotados, por meninas polidas ou herdeiras, por seasons, ou como é agora tão popular, por liceus ou criaturas mágicas. Bukowski deu voz a uma franja da população que foi e ainda é constantemente marginalizada. E, na minha opinião, isso não pode menosprezado.

Claro que há sempre um mesmo fator que me incomoda – e que é tantas vezes apontado à escrita deste autor – refiro-me claro a uma espécie de egocentrismo que, com efeito, transparece muito em qualquer obra dele e que como é óbvio atrapalha (pelo menos a mim) a leitura. Mas já encaro isso como algo inerente à escrita dele. O pior aspeto, na minha opinião, mas enfim.

Para concluir, Histórias de Loucura Normal foi uma obra que gostei de ler. Não adorei, mas leu-se bastante bem. Todavia, vou ficar outra vez algum tempo sem voltar a este autor. Realmente, há autores cujo estilo e obra, por muito que gostemos, nos cansa. Também vos acontece? Esse parece ser o meu caso com Bukowski. O que acham vocês do autor e da sua obra? Leram? Têm curiosidade? Sei que esta obra em particular está traduzida em português e, como vos disse, lê-se bem e rapidamente, não é muito longa. Se nunca leram nada do autor, nunca é tarde.

 

3/5

 

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Estudante de Letras. Romântica Incurável. Perdida algures num sonho. Apaixonada por livros, chá, contos de fadas, tragédias e chuva. Entre Flores & Estrelas.

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