“O Adeus às Armas”, Ernest Hemingway – como todos os outros ‘adeus’
“Não se sabe de nada. Nunca se tem tempo para aprender. Atiram-nos para aqui, ensinam-nos as regras, e ao primeiro erro matam-nos. Acabam sempre por nos matar. Com isso pode contar-se à certa.”
Hemingway é sem dúvida um dos meus escritores americanos preferidos. Paris é uma Festa foi o primeiro livro que li dele (já tarde, com 18 primaveras) e é literalmente uma “festa”. Adorei. Desde aí que tentei sempre saber mais sobre o autor e sobre a sua trágica vida. Sei que foi com O Velho e o Mar (que ainda vou ler) que ele ganhou o prémio Pulitzer e o Nobel, mas todos sabemos que O Adeus às Armas é a sua obra mais “famosa”. Então eu não podia perder mais tempo para a ler, pois não?
Muito sucintamente, o livro de 1929 fala de um condutor de ambulâncias americano, Henry, a combater com os italianos na Primeira Guerra Mundial que se apaixona por uma enfermeira inglesa, Catherine, que já tinha tido o seu “quê” de experiências trágicas com soldados. Mas fazer o quê? Após Henry ir parar a um hospital em Milão devido a um ferimento e Catherine ir lá parar para prestar serviço, os dois iniciam um romance. Pelo meio disto tudo há claro a Guerra. Henry é chamado de novo para a frente de batalha para combater e acaba por tomar uma decisão drástica mas 100% compreensível (pelo menos para mim). Já sabem que não dou spoilers, têm de ler o livro para saber o que acontece.
Como romântica incurável que sou tenho de começar por descurar a parte da Guerra e começar a falar da história de amor. Adorei-a! No inicio comecei por acha-la estranha e sem pernas para andar, mas depois apaixonei-me por ela. A certo ponto eles tornam-se um mesmo, ou pelo menos é o que eles dizem ser e eu vou acreditar nisso porque quero. Isso é definitivamente o tipo de coisa que eu aprecio, então Hemingway conquistou-me por aí.
É claro que há pessoas que não se inibem de chama a Catherine de “louca”, o que eu também senti tentação de fazer no início, mas a verdade é que ela não é assim tão “louca”. Quando o leitor a conhece ela não está no ponto positivo da sua vida, mas no final do livro ela mesma admite isso. Uma pessoa “louca” por acaso costuma admitir a sua “loucura”? Além disso, quem é que não enlouquece em tempos de guerra?
Ah claro, a Guerra. A parte da Guerra no livro foi, na minha modesta opinião, bem conseguida. A descrição de tudo fez-me sentir no cinema, o que me leva a crer que seria muito difícil de adaptar esta obra ao grande ecrã, mas há “loucos” para tudo não é verdade? (há mesmo, já sei que alguém tentou esta "proeza"). É claro que para mim, a Guerra aqui foi mero plano de fundo. Mas já pensaram no que seria? Eu não me consigo imaginar no meio de uma. Este casal só queria isolar-se do que se estava a passar à sua volta e amar-se em paz, mas a Guerra estragou-lhes os planos.
Outra coisa que quero mencionar é o caracter biográfico desta obra. Vocês sabiam que Hemingway ferido em combate foi internado num hospital de Milão em 1918 e conheceu lá uma enfermeira pela qual se apaixonou? Sabiam que ele a pediu em casamento? E sabiam que ela o recusou? Eu não sabia e estou chocada, afinal, quem recusa um poeta? Parece que impossibilitado de viver o seu conto de fadas, ele criou um. Parece-me o tipo de coisa que eu faria. E agora, num universo totalmente diferente, o amor dele deu um livro e triunfou. Genial.
Posto tudo isto, despeço-me reiterando uma das mais difundidas opiniões acerca deste O Adeus às Armas: para mim é claramente o melhor livro de ficção relacionado com a Primeira Guerra Mundial (e acreditem em mim quando vos digo que já li muitos desses livros por razões académicas). Sinceramente não sei porque esperei tanto tempo para ler este. Lê-se muito bem. Está dividido em diferentes partes e capítulos e a linguagem é acessível para qualquer um, assim como o estilo. Além disso, é claramente um dos livros americanos e um dos intitulados “clássicos modernos” que mais apreciei. Por tudo isto, recomendo-vos vivamente a leitura de O Adeus às Armas de Ernest Hemingway.
Idioma de Leitura: Português
4/5