“O Castelo de Otranto”, Horace Walpole
“Não há grandiloquência, símiles, flores, digressões, ou descrições desnecessárias. Tudo tende diretamente para a catástrofe."
Li este livro porque tive de ler. Questões académicas. O gótico é o meu objeto de trabalho no momento, e embora eu tivesse fugido de ler este livro durante um tempo, acabei por sucumbir à necessidade, dever, e à curiosidade natural de quem estuda. Então consegui arranjar esta edição mega completa da Wordsworth que contém três histórias góticas: The Castle of Otranto, Vathek, e Nightmare Abbey. É uma edição excelente para mim. O Castelo de Otranto é a história principal, e como tal é dela que vos venho falar esta semana.
O Castelo de Otranto conta a história de Manfred, senhor do Castelo de Otranto, e da sua família. A história propriamente dita começa no dia do casamento do seu filho Conrad com a princesa Isabella. Tal casamento não se concretiza porque Conrad morre misteriosamente. À luz de uma antiga profecia, e temendo que a sua linhagem se perdesse, Manfred, que não consegue ter mais filhos com a sua esposa, decide casar ele mesmo com Isabella. Está claro que tal arranjo não é do agrado da princesa que foge do castelo (por uma passagem secreta, claro!) com a ajuda de Theodore, um individuo que aparece misteriosamente. Manfred manda imediatamente matar este sujeito que, entretanto, sendo revelado como filho de um importante homem de fé do castelo, escapa, mas é novamente preso. Acaba por ser libertado por Matilda, filha de Manfred, e os dois apaixonam-se. No meio tempo chegam cavaleiros de outro reino para reclamar de volta Isabella. A confusão instala-se quando um deles luta com Theodore e é ferido, só para ser revelado como, imaginem, o pai de Isabella! Tudo se complica quando o pai de Isabella se apaixona por Matilda e compromete-se num acordo para deixar a filha Isabella, casar com Manfred para em troca poder casar com Matilda. E mais não vos digo! Devem ler para descobrir como isto tudo se resolve!
Dito isto, acrescento que existe uma edição desta obra traduzida para português, se quiserem ler e preferirem fazê-lo em Português. Foi publicada sob a alçada da Editorial Estampa, e até podem encontrar online.
Acho que é muito importante termos em consideração a importância do género gótico, não só nesta altura, quando começou, mas também agora. Se formos a ver, e se formos honestos, temos de admitir que é não só um dos géneros mais importantes e populares, como um dos que vende mais. Como toda a literatura, este género e a sua popularidade respondem a uma necessidade social. Se calhar está na altura de nos perguntarmos qual.
Para mim é óbvio que quem tem interesse e quem gosta de romance gótico, este livro é fundamental. Não só porque foi a origem de todo o género, como também porque é a obra onde encontram um gótico mais experimental, mais genuíno, mais gótico, estão a ver? É até um pouco algo ingénuo se compararmos com outras obras do género que vieram depois. Além disso, é um gótico que ainda não é afetado pela razão, que ainda não oferece uma explicação para si mesmo ou para os seus fenómenos. Muito experimental, tal como referi.
A verdade é que a maioria dos filmes e livros de hoje têm origem no género gótico e na literatura de terror. Os romances de Radcliffe, Mary Shelly, Bram Stoker, ou mais recentemente Stephen King têm origem aqui. O que é o mesmo que dizer que obras como Os Mistérios de Udolpho, Frankenstein, Drácula, ou A Coisa, vão buscar a sua origem a O Castelo de Otranto. E quantas obras, movimentos, e até estilos de vida não foram buscar as suas bases, ideologias e motivos a estas obras? Bem, tudo começou com Walpole. Não quer isto dizer que devíamos ler a obra que tudo iniciou?
Portanto, agora não me resta mais nada a acrescentar, senão dizer que vos recomendo a leitura de O Castelo de Otranto de Horace Walpole.
Idioma de Leitura: Inglês
3/5