“O Conde de Monte Cristo”, Alexandre Dumas
Não há felicidade ou miséria no mundo; existe apenas a comparação de um estado com outro, nada mais. Aquele que sentiu a mais profunda dor é melhor capaz de experienciar suprema felicidade. Devemos ter sentido o que é morrer (…) para que possamos apreciar as alegrias de viver. (…) até ao dia em que Deus se digne a revelar o futuro ao homem, toda a sabedoria humana se resume nestas duas palavras, - espera e esperança.
O Conde de Monte Cristo devia ser o livro que estava na minha lista de leitura há mais tempo! Gostava de o ter lido mais cedo e, realmente, confesso que não o fiz devido, em grande parte à sua extensão que me fez sempre ir dando precedência a outras obras, de modo que fui protelando indefinidamente esta leitura. O interessante é que, não obstante a extensão da obra, acabei por a ler num instantinho.
O Conde de Monte Cristo (1844-46), muito resumida e sinteticamente, conta a história de vingança de Edmond Dantès. No início da história, uma conspiração determina a injusta prisão do marinheiro Edmond sob a suspeita de complô bonapartista. Na prisão, apesar do isolamento a que é sujeito, conhece o abade Faria que, além de iniciar um processo de educação com Edmond, lhe revela a localização secreta de uma vasta fortuna. Quando este morre, Edmond consegue escapar da prisão. Após 14 anos de encarceramento e na posse da larga fortuna de Faria e de conhecimentos notáveis por este transmitidos, Edmond concebe um audaz plano cujo objetivo é retaliar com os três principais culpados da sua injusta prisão – Morcef, Villefort e Danglars. Assumindo diversas identidades, Edmond acaba por encontrar estes três indivíduos, agora muito bem estabelecidos na vida e na sociedade – Morcef é um importante general, Villefort é um notável procurador e Danglars é um popular banqueiro (os ofícios não são alheios à critica social da obra!) – e, com muita paciência, frieza e cinismo coloca em prática o seu plano.
Na verdade, a obra tem uma presença tão forte na cultura popular que quase não é preciso sumariar. Acho que também por isso a curiosidade que sentia para a ler não era tão acentuada. Porém, confesso que foi uma das leituras mais felizes dos meus últimos tempos. E acabei por demorar menos do que pensei quando olhei para o tamanho do livro e vi aquelas quase 900 páginas. É uma leitura muito cativante e fluída. Nunca deixamos de estar curiosos e, apesar dos vários nomes, personagens, das datas e dos pseudónimos do protagonista às vezes poderem confundir o leitor, o enredo acompanha-se até com bastante facilidade.
Gostava de partilhar apenas dois aspetos que, pessoalmente, me parecem mais interessantes. Em primeiro lugar, claro, o contexto histórico e a sua grande importância. Não precisamos de ir ler sobre a Revolução Francesa e Bonaparte para entender a obra, mas ainda assim é importante alguma consciência em relação à época história na qual tem lugar a obra. Em segundo lugar, muito fascinada fiquei com o aspeto mais filosófico da obra. Toda a demanda de Edmond, a sua necessidade de reencontrar aquelas pessoas, o complexo desejo de vingança e o peso das consequências das nossas escolhas, a importância e a fragilidade da justiça e o valor e, sobretudo, a possibilidade de perdoar, pareceram-me importantes temas ao longo da leitura.
Principalmente, muito me impressionou a imagem da resiliência e da persistência humana que a prisão de Edmond projetou e a justificação destas pelas últimas palavras que lemos dele e que denunciam a importância de esperar e de ter esperança. O quão tão impressionante é pensar que, realmente, aguentamos as provações mais adversas porque temos esperança e nos limitamos a esperar que tudo acabe por, eventualmente, ficar bem, não obstante o tempo que isso possa levar!
Também gostava de notar, a título de curiosidade, que a história de Edmond em O Conde de Monte Cristo me recordou muito a de Jean Valjean em Os Miseráveis de Victor Hugo. Como sabemos, o modo como Edmond lidou com os acontecimentos que determinaram a sua vida é bastante diferente daquela de Jean Valjean, mas ainda assim as semelhanças são notórias e dei por mim muitas vezes a pensar sobre essa semelhança.
Ainda acrescentava uma nota em relação às inúmeras referências a outras obras literárias (e não só!) e a acontecimentos históricos e mitológicos que vão sendo aludidos aqui e ali ao longo de toda a obra. Pessoalmente gosto muito quando isto acontece porque acabamos sempre por aprender e conhecer coisas novas à medida que vamos lendo. O que prova que a arte não é apenas entretenimento. Neste âmbito são muito importantes as notas explicativas que acompanham as edições e, tenho de dizer que, pelo menos a edição que eu utilizei está muito bem conseguida no que a esse aspeto diz respeito.
A editora Relógio d’Água tem a tradução portuguesa mais atual desta obra (em dois volumes) caso estejam interessados em ler. Não sei dizer se é uma boa edição ou tradução porque não foi a que utilizei. Como não consegui encontrar a obra no original e não queria ler em dois volumes a tradução portuguesa preferi uma edição em inglês (a que está no inicio do post), a qual recomendo.
E vocês? Já leram O Conde de Monte Cristo? Quais são as vossas opiniões? Já viram alguma das adaptações à televisão ou ao cinema? Tenho muita curiosidade para ver uma, mas não me consigo decidir!