“O General no seu Labirinto”, Gabriel García Márquez
Como sairei alguma vez deste labirinto?
Esta foi provavelmente uma das leituras que mais fui adiando. O General no seu Labirinto era um dos livros que estava na minha lista para ler há mais tempo. Gosto muito do autor e, de todas as obras que li dele até agora, não houve uma que não me tivesse cativado e fascinado. Gosto muito do seu estilo. Há uns tempos descobri esta obra e quis ler por, realmente, se basear numa personalidade histórica real. Queria ver o que faria o autor, com o seu estilo, com algo deste género, real.
O General no seu Labirinto (1989) retrata, de forma ficcional, os últimos meses de vida do general Simón Bolívar, “O Libertador”, responsável pela independência em relação ao império espanhol de diversos países da América Latina. A narrativa segue a sua viagem até à Europa e depende muito das memórias que o general vai evocando e das suas conversas com o seu companheiro de viagem, José Palacios.
O que achei mais interessante nesta obra foi o retrato do general, no fim de vida, como enfraquecido, nostálgico, exausto, literalmente a morrer. Porque, em boa verdade, esse retrato contrasta com as memórias que vão sendo evocadas de um passado enérgico e glorioso e com a própria imagem que se supõe que o leitor da obra tem da personagem que, neste caso, existiu mesmo.
O General no seu Labirinto contém um retrato muito humano e que me sensibilizou particularmente por ser precisamente uma imagem muito pouco heróica de um herói. Coloca a um nível geral e humano uma personalidade que muitos colocam ao nível de herói. E é ainda mais significativo por se tratar de uma personalidade que existiu mesmo. Aqui está um herói que é real e que é humano e que é mortal.
Também achei interessante a questão do labirinto. A última coisa que Bolívar terá dito foi realmente “como vou eu sair deste labirinto?”. E acho que o que García Marquéz fez com esta ficcionalização da vida do general foi exatamente mostrar a saída dele do labirinto.
Ademais não deixa de impressionar como é aqui apresentado o modo como uma personagem destas chega ao fim da sua vida, em retirada do continente que ajudou a libertar, adorado por muitos, odiado por outros, mas ainda assim em retirada, a morrer, reduzido a tudo aquilo que no fundo todos somos.
Não concluo sem referir o debate que a obra gera em torno do seu género. Sabemos que é uma ficcionalização, mas poderá considerar-se um romance histórico? Franca e pessoalmente, é algo sobre o qual não consigo ter uma posição clara. Até porque este autor, como saberão, tem um estilo muito próprio, aquele realismo mágico que caracteriza a sua obra e que, realmente não parece encaixar numa categoria destas. Sem ter nada a ver, lembra-me a questão da obra “Duas Irmãs e um Rei” que, para mim, embora se baseie em factos históricos, toma tantas liberdades que não me parece que seja outra coisa que não uma obra de ficção. Em relação a O General no seu Labirinto não tenho a mesma opinião, mas ainda assim, também não consigo ser categórica.
Por fim, concluo com uma recomendação de leitura desta obra. Não foi, nem de perto nem longe, a minha obra preferida do autor, mas não deixa de ser uma obra muito interessante e rica e uma leitura que muito apreciei. Existe uma tradução da obra em Portugal se preferirem. Já tiveram oportunidade de ler? Que outra obra do autor recomendariam?