“O Italiano”, Ann Radcliffe
“Desejo que todos os que, nesta noite não estão alegres o suficiente para falar antes de pensar, nunca depois estejam taciturnos o suficiente para pensar antes de falar!”
Mais uma vez trago-vos um romance gótico! Sei que provavelmente já estou a abusar, depois de Frankenstein (Mary Shelley), de Os Mistérios de Udolpho (também de Anna Radcliffe) e de O Castelo de Otranto (Horace Walpole) voltar aqui outra vez com a Senhora Radcliffe e esta sua obra O Italiano. E sei que, embora o gótico ainda continue em voga, estes primeiros romances e grandes clássicos do género já não são tão populares como um dia foram. A verdade é que, por motivos académicos, tenho estado muito imersa neste género. E destas obras acabo por gostar o suficiente para querer que toda a gente as leia e fale sobre elas. Então cá vamos nós outra vez!
O Italiano (1797) tem todos os ingredientes típicos de um romance gótico: a bonita, vulnerável e órfã heroina Ellena, o herói Vivaldi numa demanda pela proteção da sua apaixonada e o vilão Schedoni, um monge ao serviço da Marquesa Vivaldi, mãe do herói que se recusa a aceitar a união do casal. Tudo isto e ainda um fiel servidor, uma mãe “regressada dos mortos”, um cenário italiano, uma perseguição, um rapto, conventos, reclusão, crimes e até a Inquisição. E claro, fantasmas, passagens secretas e segredos com anos. Reviravoltas também não faltam.
Honestamente gostei bastante deste livro. Lembro-me de ter achado Os Mistérios de Udolpho ligeiramente exagerado. Achei esta obra muito mais lúcida, cativante e interessante. Muito mais madura. Provavelmente tem a ver com o facto de ter sido escrita posteriormente e, diz-se, como resposta a outro romance gótico que espero ler em breve (já sabem, se gostar, virei aqui falar dele!). Este outro romance foi o primeiro de Matthew Lewis e, para a altura, teria sido tão gráfico e explicito que teria suscitado tanto aprovação como repulsa em, atrevo-me a dizer, igual proporção. A Senhora Radcliffe teria escrito O Italiano como que para demonstrar que o romance gótico era muito mais do que aquilo que Lewis fez dele.
Uma das minhas coisas preferidas de Ann Radcliffe e dos seus romances góticos é o facto de haver um cuidado em explicar tudo, inclusive o supostamente inexplicável. O sobrenatural, quero eu dizer. Já em Os Mistérios de Udolpho eu tinha notado isso. Acho muito interessante tendo em conta que o género gótico é, como sabem, caracterizado pela presença deste tipo de eventos. O sobrenatural tem um peso notável no género e é, muito provavelmente, o seu maior e principal atrativo para o leitor. Então eu acho este tratamento da Senhora Radcliffe bastante inovador, até para a sua época.
Como vos disse no início, esta obras já não são tão populares entre a maioria dos leitores como foram um dia. Muitos dos fãs do gótico leem as obras mais atuais. A maioria das pessoas que acaba por ler estas primeiras obras do género faz como eu e lê no idioma original. Porém, eu verifiquei que existe uma tradução desta obra para português se tiverem ficado com vontade de ler. Foi lançada pela Estampa Editores. Então se tiverem disponibilidade e interesse, já sabem!
Posto isto, acho que já adivinham que este é um livro que eu recomendo sinceramente. Gostei bastante. Do género gótico, e de entre os primeiros do género, este foi o meu preferido. Acho que é também super acessível e a história “pega”, não é mega irrealista, como já vos disse, e prende mesmo! Então, já sabem! Se quiserem e puderem, leiam O Italiano de Ann Radcliffe. Recomendo a leitura!
Idioma de leitura: Português
3,5/5