“O Mito de Sísifo”, Albert Camus
“A partir do momento em que foi descoberto, o absurdo é uma paixão, a mais lancinante de todas. Mas o problema está em saber se podemos viver com as nossas paixões, se podemos aceitar a sua lei profunda, que é a de queimar o coração que elas ao mesmo tempo exaltam.”
A minha história com este autor e as suas obras é tão estranha, louca e bizarra, que nem vou por aí. Prosseguindo: da primeira vez que li algo deste autor, foi O Estrangeiro (do qual falei aqui no blog) e do qual gostei imenso. Gostei ao ponto de querer ler mais de Camus. Porém, não o suficiente para ir logo a correr ler tudo. O Mito de Sísifo veio mesmo um bocado “por acaso”.
O Mito de Sísifo não é totalmente sobre o mito de Sísifo. Quer dizer, no fundo é. Mas não é. Bem, isto está a ficar confuso. O Mito de Sísifo é um ensaio filosófico e um marco na famosa corrente do existencialismo, já para não falar do nascimento do “absurdo”. Está dividido em 3 partes principais, e numa quarta parte que é a referência ao mito clássico de Sísifo. Mas em que consiste o absurdo? Como apresentado aqui pode dizer-se que é a busca do homem pelo sentido da vida. Então, cada parte do ensaio é uma abordagem do absurdo na vida. O absurdo da vida do homem é comparado com o mito de Sísifo.
Que mito é este? Como devem saber, segundo a mitologia clássica, Sísifo foi um mortal que enfureceu tanto os Deuses que eles os condenaram a uma eternidade dolorosa: até ao fim dos seus dias ele tinha de levar uma pedra até ao cimo de uma montanha. O problema é que assim que lá chegava, a pedra rebolava até ao início de novo. E o pobre Sísifo tinha de começar tudo do início.
A metáfora é genial, pois tal como Camus escreve: "O operário de hoje trabalha todos os dias da sua vida, fazendo as mesmas tarefas. Esse destino não é menos absurdo, mas é trágico quando em raros momentos ele se torna consciente".
Esta obra é um ensaio filosófico, e como tal, nem sempre é de entendimento fácil e direto. Falo por mim, pelo menos. Tenho a certeza de que deixei escapar imensas coisas. Como sabem, eu gosto imenso de filosofia. Porém, a minha “área” de interesse dentro da mesma, não é o existencialismo, embora esteja relativamente perto. Nietzsche é a minha preferência declarada. E um dos niilismos que ficou tão associado com a sua abordagem foi o niilismo existencial, de maneira que no fundo isto até faz sentido.
Quanto ao existencialismo puro, não sei bem como me sinto. Porém, entendo-o e consigo compreender a sua aplicação prática. E isso é mais do que eu posso dizer relativamente a outras correntes. Também por isso se torna mais fácil para mim ler Camus. Embora tenha de dizer que preferi o mais ficcional O Estrangeiro, o que é natural porque eu sou mais de ficção, fantasia, romance, etc. Porém isso não invalida, nem de perto nem de longe, o que verdadeiramente está aqui em causa.
Em suma, despeço-me com a recomendação deste livro. Sei que é profundamente filosófico e requer outro tipo de entendimento e menos leveza, mas não é de difícil leitura. Além disso, na minha humilde opinião, acho que o existencialismo está presente e vai continuar presente durante muito tempo, pelo que o mínimo que podemos fazer como indivíduos no nosso pequeno mundo absurdo, é tentar entendê-lo. Bem, bem, mas isso já é outra conversa.
Idioma de Leitura: Português
3/5