“O Primeiro Amor”, Ivan Turguénev
“Eu não tive primeiro amor, comecei diretamente pelo segundo.”
A minha história de amor com este livro começou na livraria. Vi, por acaso O Primeiro Amor na livraria que habitualmente frequento e soube logo que o queria ler. Por três razões: primeiro, é um clássico que como sabem, é a minha “categoria” preferida; segundo, é russo: não sei se já vos contei mas sou uma grande fã da literatura russa; e terceiro, o título: como sabem sou uma dessas pessoas que se deixa levar por um bom título e uma capa bonita. Shame on me. A ideia de “primeiro amor” é para mim muito importante, como já vos vou passar a contar.
A história de O Primeiro Amor é bastante simples: temos Voldemar, o adolescente protagonista, e Zinaída, aquela que será o objeto do seu amor. Os dois conhecem-se quando Zinaída e a mãe se mudam para a casa ao lado da de Voldemar. Assim que mete os olhos em Zinaída, o jovem Voldemar apaixona-se. Aquilo com que não conta é que, tal como ele se apaixonou pela sua nova vizinha, os outros cavalheiros do sítio também se apaixonam. Na verdade, a Zinaída não faltarão pretendentes. O que é que dá errado aqui? Simples: Zinaída não só não se apaixona por Voldemar, como não se apaixona por nenhum dos seus pretendentes. Curiosamente, a requisitada Zinaída vai apaixonar-se por alguém que não pode ter, tal como os seus pretendentes. Por quem se apaixona então ela? Bem, como sabem, não gosto de dar spoilers e a verdade é que este spoiler é demasiado bom e grande para se dar. Vão ler o livro!
Então vamos falar, como foi o vosso primeiro amor? Se há coisa que este livro acordou em mim foi a recordação do meu primeiro amor. Que na verdade, é uma dor recente. O meu primeiro amor, tal como o de Voldemar, também foi um amor platónico. Tal como o nosso jovem protagonista, foi amor à primeira vista. Soube que o amaria para sempre assim que pus os olhos nele. Tal como com Voldemor, desde cedo compreendi que não ia ter hipóteses nenhumas, o que também não me demoveu. Com o passar dos anos só me apaixonei mais. Com Voldemar também sabemos que, à medida que cresceu e se tornou adulto, o seu amor por Zinaída manteve-se, até uma certa obsessão. Este livro, tem o poder de acender em nós as nossas recordações do nosso primeiro amor. E não só.
Esta é um história cheia de nostalgia, melancolia e claro muita paixão. Isto vai parecer estranho, mas se fosse uma cor, este livro seria verde. Se fosse uma estação seria o verão. Se fosse uma pessoa seria obviamente um adolescente. O Primeiro Amor é tão doce e inocente como triste e melancólico. Juro-vos! Leiam e vejam por vocês mesmos.
Porém não é só amor. Uma coisa que também notei com surpresa, foi o distanciamento dos pais para como o jovem filho. Não é isto hoje em dia tão recorrente? Pois é. Voldemar é reprimido pela mãe e esquecido pelo pai. Estes pais não conseguem compreender ou “chegar” ao filho. Se há uma coisa que não posso deixar de notar é a indiferença com que os pais se relacionam com Voldemar. Este rapaz apaixonou-se e teve o seu coração partido e os pais nada notaram. Quando eu me apaixonei e quando tive o meu coração verdadeiramente partido, todos à minha volta sabiam que algo estava profundamente errado. Como puderam ignorar o sofrimento e a paixão do jovem Voldemar? Parece estúpido, mas não consigo para de sentir pena dele! Quem me dera puder abraça-lo. Sim, é verdade, eu vivo muito as histórias.
Em termos de literatura russa, este livro de Turguenev foi sinceramente o mais simples que li. É um ótimo livro para quem se quer deixar enlevar nesta literatura que eu tanto aprecio. A verdade é que este é um livro que muito vos recomendo. A simplicidade da escrita, as situações que, prometo, ainda são atuais, a leveza com que o autor conta a história, a objetividade da mesma, sem grandes “desvios” ou “divagações”, fazem deste livro um livro ideal. Foi dos clássicos mais acessíveis que já li. Como se não bastasse, a história sobre um primeiro e platónico amor é algo com que todos nos podemos relacionar. Além disso, é muito pequenino. Cerca de cento e pouco páginas, lê-se num instante. Recomendo vivamente!
Idioma de leitura: Português