“O Quarto de Jacob”, Virgina Woolf – neste quarto não entra qualquer um
“Sou o que sou e tenciono ser isso mesmo”
Sim, admito. Li este livro por obrigação. Foi-me pedido que o fizesse para um seminário de Mestrado. No entanto, escrevo aqui sobre ele porque quero. Virginia Woolf é definitivamente das minhas personalidades literárias preferidas de sempre. Mrs Dalloway é único. Então quando soube que “tinha” de ler este livro dela, nem pensei que ia ser um “frete” ou uma “obrigação”, muito pelo contrário, até fiquei entusiasmada. Foi com muita curiosidade e sobretudo com muitas expectativas que o fiz. Talvez isso tenha sido um problema.
O Quarto de Jacob é uma obra no mínimo peculiar. A trama gira à volta de Jacob Flanders, porém este só é apresentado pelas perspetivas das outras personagens. Ficamos a conhecê-lo através das impressões que as outras pessoas têm dele. Ficamos a saber acerca de eventos mundanos da sua vida; como estudou em Cambridge, como aprecia os bons escritores clássicos, como empreendeu uma viagem à Grécia… Mas não há uma história, uma narrativa propriamente dita, apenas fragmentos de uma vida – a de Jacob Flanders.
O Quarto de Jacob muitas vezes intitulado como o primeiro romance livre de Woolf, foi o primeiro que não precisou de “aprovação” de um superior, foi publicado pela sua própria editora. Então é óbvio que é o primeiro livro em que dá asas à sua fantástica imaginação, e o primeiro em que tem total liberdade criativa. Os críticos da época chamaram-lhe o “primeiro romance futurista”.
Com alguma pesquisa descobri que Jacob Flanders foi inspirado no irmão mais novo da autora que morreu precocemente. Confesso que não sei o que achar disso. Ainda nem sei o que achar do livro. A única coisa de que tenho a certeza é de que Virginia Woolf é um génio. Isso e de que ela não escreveu este livro para alguém que não fosse ela própria.
No início eu tentei focar-me inteiramente no livro, queria mesmo compreender tudo do começo e seguir a história. Esqueci-me do quão imprevisível Woolf é. A minha resolução não durou mais do que a leitura dos dois primeiros capítulos. Acabei por entender que não há nada para entender. Virginia Woolf não escreveu uma história para ser entendida por alguém que não fosse ela, e provavelmente nem ela. Pode parecer uma coisa má de se dizer, mas não é. Foi só quando deixei de tentar entender a “história” que comecei verdadeiramente a apreciar o livro por aquilo que é – uma obra de arte suprema e inovadora.
Tenho de dizer que esta obra da muitas vezes apelidada pioneira do modernismo literário europeu, não é para qualquer um. Não imagino uma pessoa descontraidamente no seu dia-a-dia a ler O Quarto de Jacob só porque sim. E se o fizer, há 99% de hipóteses de não entender a obra e de não a apreciar como esta deve ser apreciada. Este livro é como uma sucessão de quadros impressionistas e abstratos a desfilar perante os nossos olhos num galeria, e aqueles que apenas apreciam o concreto e objetivo não vão gostar da exposição.
Idioma de Leitura: Inglês
3/5