“O Vampiro”, John William Polidori
“Afinal, os sonhos dos poetas eram as realidades da vida”
Muito tempo depois, volto a trazer-vos algo Gótico. Acho que a última vez que falei de um romance gótico aqui, foi no inicio do ano quando vos trouxe The Monk. Não sei bem dizer o porquê de ter lido O Vampiro. Se calhar é por estar muito em contacto com este género; talvez seja por ter sido quase pioneiro em termos de tema; ou se calhar, apenas calhou. Mas ainda bem que o fiz, não por ter adorado, mas devido à tradição em que se insere e na qual esta obra é tão importante.
Aubrey é o jovem protagonista de O Vampiro. Após conhecer um nobre, Lord Rutheven, que se insere na sociedade de Londres misteriosamente, parte com ele em viagem. Mas logo na primeira paragem, deixa-o por ele seduzir uma jovem sua conhecida. Aubrey dirige-se para a Grécia onde conhece uma nova jovem rapariga a quem se liga. Esta jovem é entretanto misteriosamente morta por um vampiro. Aubrey reúne-se a Lord Rutheven de novo, mas nova desgraça. Lord Rutheven é atacado por bandidos e fica às portas da morte, fazendo Aubrey prometer que nunca contará nada daquele momento ou da sua “morte” a alguém durante o prazo de um ano e um dia. Estranho? Pois é. De volta a Londres, Aubrey é surpreendido quando Rutheven aparece outra vez, bem, vivo e preste a casar com a sua irmã no preciso dia em que a promessa acaba. Aubrey passa mal com a situação e é dado como louco. Escreve uma carta à irmã, mesmo antes de morrer, a revelar a verdade que já se adivinha sobre Lord Rutheven, mas esta preciosa carta, claro, não chega a tempo. A irmã de Aubrey casa com Lord Rutheven e podem adivinhar o que daí resulta.
Acho que nunca tinha aqui escrito um resumo tão longo e detalhado.
Esta história tem uma origem conhecidíssima, mas eu não vou supor que todos a conhecem. Foi escrita no ano de 1816, mas apenas publicada em 1819 sendo atribuída a Lord Byron. Porquê? Bem, Polidori, com Percy e Mary Shelley passaram uma temporada nesse “ano sem verão” (como ficou conhecido o ano de 1816, devido às alterações climáticas que assolaram a Europa), com Lord Byron na casa deste na região dos Alpes. Houve uma certa altura desta estadia em que os quatro, tendo ficado “presos” em casa pela chuva, embarcaram num desafio: teriam de compor e contar uns aos outros histórias de terror (muito em voga na época). Foi desta competição que saiu O Vampiro de Polidori (publicado como sendo de Byron) e, como sabem, Frankenstein de Mary Shelley (publicado inicialmente como do seu marido Percy Shelley), obra sobre a qual também já falei aqui no blog.
Não sei se sabem, mas foi a partir deste O Vampiro que a tradição e, sobretudo, a figura do vampiro por excelência, e como o conhecemos hoje, nasceu. Claro que a partir daqui houve uma evolução gigante. Antes desta obra, já existia, claro, folclore vampírico. A questão é que esta obra sintetizou tudo isso em prosa e, nesse aspeto, é importantíssima.
Assim, a relevância da obra, pela sua influência e impacto, é indiscutível. Enquanto obra em si, na minha opinião, é boa, acessível, agradável, mas não extraordinária. Tanto que não abre espaço para grandes interpretações ou reflexões. Para mim vale mais em termos históricos e estéticos.
Desta forma, se alguém estivesse interessado em aspetos técnicos ou estéticos, recomendaria absolutamente a obra. Para quem gosta de Gótico, sem dúvida que é essencial. Porém, com honestidade, não consigo ver o interesse que possa ter para outra pessoa. Há sempre tantas obras, que compreendo que O Vampiro seja algo mais específico e restrito e, definitivamente, não uma primeira escolha. Todavia, é uma obra pequeníssima, lê-se em metade de uma tarde. E com bastante facilidade. Dá para passar um bom bocado e fica-se a conhecer a origem de uma tradição, o que, para quem gosta de literatura e, sobretudo, deste género, é sempre bom.
Idioma de Leitura: Inglês
3/5