“Os Contos da Cantuária", Geoffrey Chaucer
“As pessoas podem morrer de mera imaginação"
Há um tempo que queria ler esta obra, mas a verdade é que acabei por o fazer agora por motivos académicos. Porém isso não retirou entusiasmo à minha leitura. Só aumentou um bocadinho o olhar critico e fez, talvez, com que não apreciasse bem a obra como um entretenimento.
Os Contos da Cantuária é uma coleção de contos da autoria de Chaucer. Numa viagem de peregrinação até à Cantuária (era uma viagem habitual na Época Medieval, tal como as peregrinações até à terra Santa), diversos peregrinos vão contando histórias, contos, uns aos outros para entretenimento até à chegada. Esses são os contos reunidos na obra. Ao todo são 24 contos e os seus temas são variados, mas refletem duas coisas: as idiossincrasias da Época Medieval e a ironia de Chaucer.
Os peregrinos que narram os contos não recebem nome, sendo sempre tratados pela sua condição, e os contos que relatam refletem por vezes, traços dessas mesmas condições ou das suas próprias personalidades e modos.
Está claro que não é possível resumir todos os contos aqui porque os temas não são os mesmos em todos e as histórias não seguem uma narrativa, são contos isolados. Os temas variam, mas eu destacaria temas que eram, de resto, apreciados e de importância e relevo na época, como o amor cortês e ideais de cavalaria ou a religião.
De todos os contos, há quatro que destaco e vos recomendo particularmente. São eles “The Knight’s Tale”, “The Miller’s Tale”, “The Wife of Bath’s Tale” e “The Clerk’s Tale”. Foram os meus preferidos e são também alguns dos mais conhecidos da obra.
Uma das coisas que me surpreendeu foi a ironia do autor e uma certa “descontração” na escolha das narrativas e da linguagem utilizada. Há uma grande tendência por parte das pessoas para considerarem a Época Medieval como conservadora e opressora. Apesar de eu saber que isso não corresponde 100% à verdade, numa época que durou tanto tempo e não foi igual em todo o lado, às vezes ainda me apanho enredada em mitos criados sobre a época. Nesse âmbito, esta obra ajuda na desmitificação de algumas convenções atuais sobre uma época mal compreendida e considerada muitas vezes em função de interpretações preconceituosas.
Como li a obra no original, tive algumas dificuldades, confesso. Se quiserem ler, aconselho-vos a tentar a tradução. De facto, costumo sempre dizer que o original é sempre a melhor opção, ainda mais neste tipo de obra em que a linguagem tem imensa importância e, em que se perde muito na tradução, inclusive rimas. Mas o “old english” não é de entendimento direto e eu acabei por perder muito da obra com o foco nas palavras e no seu significado e interpretação.
Não obstante tudo isto, concluo com uma recomendação da obra. Não a considero a melhor coleção de contos, nem de perto nem de longe. Ainda assim, é agradável. E, mais importante, ilustra muito acerca da Época Medieval, das suas características e convenções literárias, e fá-lo com humor. E essa, para mim, é a mais valia da obra de Chaucer.
Idioma de leitura: Inglês
3/5