A história segue o regresso do jovem Arkadi a casa, acompanhado pelo seu amigo Bázarov, e explora diversos aspetos. É abordado o modo como o pai, Nikolai, recebe Arkádi e a diferença geracional que o separa do filho e do amigo deste; a nova filosofia advogada por Bázarov – o niilismo – que espanta Pável, irmão de Nikolai e um liberal - e que proporciona diversas discussões; e ainda a libertação dos trabalhores agrícolas. Por outro lado, existem também narrativas de cariz romântico: a história sobre como Arkádi se pensa apaixonado pela independente Odintsova e o modo como o niilista Bázarov também não lhe resiste; a união não matrimonial de Nikolai com a jovem Fenechka e o desgosto de Pável com a sua Princesa R. Além disso, observamos também a relação de Bázarov com os seus pais.

Existem imensos aspetos desta obra que se podiam discutir de tão rica que ela é. Mencionarei somente três exemplos.

Como sabemos, esta obra popularizou o termo niilismo que aqui remete precisamente para alguém que não acredita em nada e que não se rege por nenhum princípio – Bazárov. O que é muito interessante é que, em teoria, esta personagem é exatamente assim: não acredito no amor, na moral, na arte, na religião etc. Todavia, depois verificamos o modo como, mesmo contra vontade e ideologia, ele se encanta por Odintsova ou o apreço que sente por Arkádi ou mesmo o respeito que demonstra por Pável a certo ponto. É, contudo, interessante perceber que tudo isso parece muito inconsciente porque, quando o pai lhe pede em desespero que reconheça a doutrina cristã, ele recusa obstinadamente. Todavia, existe aqui como que uma exposição da impossibilidade de viver segundo o ideal defendido. A possível perniciosidade da crença de Bazárov é também exposta através do modo como as suas ações e comportamentos vão afetando negativamente aqueles que o rodeiam.

Por outro lado, Arkádi surge sempre como alguém muito diferente de Bázarov, ainda que notemos como ele admira o amigo e considera as suas opiniões e ideologias. Todavia, Arkádi parece sempre muito mais ingénuo e sonhador. O que é evidente não só no seu elevo por Bázarov, mas igualmente no modo como idealiza Odintsova, decidindo quase conscientemente apaixonar-se por ela. A forma como percebe que isso não é real quando se apaixona efetivamente é muito cândida.

Por fim, é inevitável mencionar o principal tema da obra: o conflito geracional. É, realmente, muito interessante olhar as relações entre Arkádi e Bazárov e os seus respetivos pais. Não são só duas gerações diferentes, mas duas Rússias diferentes. E é significativo que a diferença seja apenas de uma geração. Permite inferir muito acerca da história daquele país e daquela época no geral. Parece ter sido um período onde tudo aconteceu muito depressa e onde as posições se extremaram e opuseram muito rapidamente. A certo ponto existe uma passagem em que Nikolai ouve uma conversa entre Arkádi e Bazárov onde este refere que a geração de Nikolai e Pável já está ultrapassada e nada mais tem a oferecer. É uma passagem muito poética e uma das minhas preferidas na obra.

Pais e Filhos está traduzido em português pela Relógio D’Água e tem um posfácio extraordinário de Vladimir Nabokov que recomendo igualmente.