“Paraíso Perdido”, John Milton
“A mente é, em si mesma, um lugar, e em si mesma pode fazer do inferno um paraíso e do paraíso um inferno”
A primeira coisa que tenho de dizer é que não faço ideia do porquê de ainda não ter lido este livro e muito menos do porquê de ainda não me ter ocorrido que o devia fazer. Mas ainda bem que “me lembrei”. É um livro fundamental para qualquer pessoa que aprecie e estude literatura inglesa ou, para ser honesta, literatura no geral.
Em Paraíso Perdido Milton conta, em pleno século XVII e sob a forma de poema épico, a história do pecado original, da queda do homem. A obra está divida em 12 cantos e, após a famosa invocação à musa da poesia, narra a queda de Lúcifer, a pena dos anjos com ele caídos, a revolta dos mesmos, o momento em que despertam no inferno, e claro, a sedução de Satanás, sob a forma de serpente, que leva a que Eva, e depois Adão, comam o fruto proibido da árvore do conhecimento, levando à sua expulsão do Jardim do Éden e à consequente queda do homem, à condenação da humanidade.
Primeiro tenho de dizer que a minha opinião acerca desta obra pode ser condicionada pelo facto de eu gostar mesmo muito deste mito. Adoro a explicação bíblica, adora a história de Adão e Eva no Jardim perfeito de Deus. Acho uma história lindíssima e deveras original. De maneira que desconfio que a minha opinião pode não ser imparcial.
Posto isto, tenho de dizer que adorei a obra. Já tinha ouvido falar dela, como todos vós, tenho a certeza, e as ilustrações que existem são tantas e tão bonitas! Porém, ler a obra é uma experiência completamente diferente, como sempre.
Para mim, o mais significativo é de facto a reflexão a que nos leva. Durante a maior parte da obra, a ideia de que o conhecimento é, de facto, a maior causa da perda da inocência, não saiu da minha cabeça. Até porque, aqui o paraíso que se perde é mesmo a inocência. Adão e Eva eram tão puros, tão inocentes no início da obra que, de certo modo enervava. Porém, assim que comeram o fruto proibido tomaram conhecimento da sua origem, do pecado, da morte, mudaram enquanto personagens. Foi como se tivessem sido introduzidos novos personagens. E desses eu gostei muito mais. Acho que tem a ver com o facto de serem muito mais como nós, como pessoas de verdade, do que eram no início. Antes eram aborrecidos e irreais, mas “depois da maçã”, tornaram-se reais e interessantes. Não tenho a certeza de que isto faça sentido para vós, mas espero que sim. Mas não foi a perda da inocência que fez deles humanos?
Acho que esta opinião também pode estar relacionada com o facto de eu ter estado durante toda a obra meio apaixonada pela figura de Lúcifer. Agora sim entendo todo o encanto com ele no meio artístico e a sua importância nos movimentos literários posteriores a Paraíso Perdido. Já a figura de Deus, aborreceu-me. Lembro-me de ter dito a uma amiga que Deus desta obra me parecia demasiado perfeito. Mas, no fundo, Deus é suposto ser perfeito, não é? Então nem posso culpar Milton. Mas por isto compreendo porque gostei mais do “depois da maçã”. Antes Adão e Eva eram quase como deuses, em menor escala, mas depois, aproximaram-se muito mais de Lúcifer e dos humanos.
Há ainda uma ideia extraordinária expressa no penúltimo livro que eu destaco. A certo ponto, Adão oferece-se para construir uma espécie de templo ou monumento em honra de Deus para expiar o seu pecado. Porém, um arcanjo diz-lhe que não vale a pena construir objetos físicos para sentir a presença de Deus ou para se redimir. Disse “extraordinária” tendo em conta a época em que foi expressa. Mas o tom da obra, e do próprio Milton, é protestante. O que vos parece?
Refiro ainda que minha edição tem também Paradise Regained que é exatamente aquilo que o título anuncia. Porém, não é tão interessante ou impactante em termos estéticos como Paradise Lost, na minha opinião.
Dito tudo isto, não me alongo muito mais. Concluo recomendando-vos vivamente a leitura. Se puderem fazê-lo em inglês, ainda melhor. Às vezes tornou-se difícil de entender como é óbvio, tendo em conta a evolução da língua inglesa desde o século XVII, porém, tendo em conta o próprio género acho que compensa muito. Se já leram Paraíso Perdido, qual é a vossa opinião? Também acham que, como disse Lúcifer, “é melhor ser rei no inferno que escravo no paraíso”?
Idioma de Leitura: Inglês
4/5