“Queen Mab: A Philosophical Poem”, Percy Shelley
Even love is sold.
Há coisa de um par de anos, num verão, comprei antologias de poemas de alguns dos meus poetas preferidos. Falei aqui no blog sobre as antologias de Yeats e de Keats. Nessa altura comprei também uma antologia de Shelley da mesma coleção e esta semana venho falar-vos de um trabalho que li na semana que passou, que consta nesta antologia e do qual gostei imenso.
Queen Mab (1813) foi o primeiro grande trabalho de Shelley. É um poema em nove cantos e é, essencialmente, uma utopia. O poema narra a viagem de Ianthe através do tempo e do espaço conduzido pela rainha das fadas, Mab, que lhe fala dos hábitos e ações destrutivas do homem, de tudo o que está errado no presente, de tudo o que esteve errado no passado e, apresenta uma visão promissora de um futuro onde tudo será corrigido, onde tudo será bom, justo e belo.
Antes de tudo e a título de curiosidade, Ianthe foi o nome da primeira criança de Shelley e, Queen Mab, como sabem, é uma referência recorrente no folclore e não só. Recordo neste momento uma referência a esta fada em Shakespeare, Romeu e Julieta, e também em Moby-Dick de Melville. Mas as referências a ela, são, claro, muitas mais.
Aspetos discutidos nesta composição em particular vão desde os sistemas políticos, aos sistemas de comércio, as leis e a corrupção, a alimentação e, algo muito enfatizado, a religião e o caracter já imoral do próprio amor.
Como calculam, o cariz filosófico e político do poema é claro e óbvio e eu não me vou alongar nesse aspeto, para não correr o risco de dizer algo menos correto ou mais simplista. Além disso, acho que muita da interpretação que podemos fazer deste poema vem de nós e da nossa visão própria do mundo, mais do que de teorias. Sobretudo no concernente àquilo que nós achamos que está certo ou errado, sendo que, como sabemos, visões políticas e ideologias filosóficas diferentes resultam em diferentes opiniões e abordagens e, aquilo que uns veem como injustiças, outros veem como necessidades prementes ao bem-estar e ao equilíbrio da sociedade. Sinceramente, acho que até este aspeto é exposto no poema.
A composição para mim tem algo que ainda a torna mais interessante e importante que são notas do próprio autor em relação a alguns versos e que são autênticos ensaios dos quais eu, pessoalmente, gostei ainda mais do que do poema, se isso é possível. Especialmente, existem duas notas em particular, uma sobre a condição do amor e outra sobre a religião que me agradaram realmente. Até tem uma nota sobre vegetarianismo a qual eu, praticante da dieta, entendi como deveras interessante. E achei graça a tal inclusão. As notas, todas elas, até podem ser lidas como externas ao poema, ou seja, ninguém precisa de ler o poema para as ler e entender,
Uma coisa que me fascinou muitíssimo e que não posso mesmo deixar de mencionar é a atualidade do poema. Tudo o que ali está ainda faz sentido para mim. Quero eu dizer, as falhas que Queen Mab aponta ao homem e aos seus sistemas, ainda se aplicam ao que eu vejo hoje. E isto, sublinho, é uma opinião pessoal. Mas creio que este aspeto só demonstra que nós nunca mudamos mesmo, não? E por isso é que este tipo de obras continua a ser popular. A nossa natureza humana pode ser muito controlada ou cultivada, mas não se altera na sua essência. E, como costumamos dizer, os erros do passado são os erros do presente e serão certamente os erros do futuro.
Como podem perceber, adorei o poema e recomendo imenso. Não faço ideia se está ou não traduzido para português, mas suponho que deva estar. Afinal, porque não estaria? E vocês? Conheciam o poema? Já leram? Ficaram curiosos?
5/5