Daquela janela, aberta sobre as serras, entrevia uma outra vida, que não anda somente cheia do Homem e do tumulto da sua obra.
Parece que ainda há pouco escrevi aqui sobre a minha leitura de O Primo Basílio e e agora escrevo novamente sobre uma obra de Eça de Queirós. Gosto muito da sua obra no geral. Como já tive oportunidade de escrever aqui, é um dos meus autores portugueses preferidos. A Cidade e as Serras era uma das obras que me faltava ler dele. Tive a oportunidade de este ano a adquirir na Feira do Livro e, finalmente, na semana passada, consegui lê-la.
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!
Penso que ainda não tinha tido oportunidade de vos falar sobre nada de Eça de Queiroz. É provavelmente o meu autor português preferido e se não vos falei sobre nada dele mais cedo foi porque a maioria das suas obras li quando era mais nova. Calhou muito recentemente falar sobre este autor e perceber que ainda não tinha lido esta obra. Na altura em que li as obras de Eça, apesar de não ter sido assim há tanto tempo, não era tão frequente existirem tantas e tão diferentes edições.
Tem cada um o seu modo pessoal de dormir e morrer, julgamos nós, mas é o dilúvio que continua, chove sobre nós o tempo, o tempo nos afoga.
Não sei sobre quantas obras de Saramago já vos falei aqui, mas sei que já foram algumas. Como já vos contei, sou uma grande fã. Em relação a esta escolha em particular, apesar de há muito estar na lista de obras de Saramago que queria ler, confesso que foi devido ao filme baseado na obra e realizado por João Botelho que está para estrear que me decidi de uma vez a comprar e a ler. Não fosse isso, talvez tivesse optado por outra.
O mundo está cheio de coincidências, e se uma certa coisa não coincide com outra que lhe esteja próxima, não neguemos por isso as coincidências, só quer dizer que a coisa que coincide não está à vista.
Como certamente reparam, eu não costumo por norma ler muitas obras portuguesas. Não é por nada em especial, como é lógico. Só não calha e não são tão apelativas para mim. Há poucas que se enquadrem no género de livros que eu gosto. Se for honesta, Saramago também não se enquadra, mas por alguma razão, gosto sempre bastante das obras dele e ultimamente, cada vez que penso “a seguir vou ler alguma coisa de Portugal”, é a minha primeira escolha. Se se lembram, na primavera falei-vos de As Intermitências da Morte. Nessa altura, o que queria mesmo ler era A Jangada de Pedra, mas acabei com as Intermitências. Sei que a vontade de ler esta obra veio de uma aula de cinema em que alguém mencionou a adaptação fílmica (do realizador George Sluizer, 2002) e falou tão bem dela que, sendo eu a pessoa fácil de cativar que sou, quis logo ler. O filme nem me interessou, para ser sincera.
"A morte, por si mesma, sozinha, sem qualquer ajuda externa, sempre matou muito menos que o homem”
Como provavelmente já perceberam, eu não sou por excelência uma apreciadora ou admiradora de literatura portuguesa. Não é o meu campo de interesses principal e sinto sempre que para me prender, tem realmente de ser uma obra notável. Assim, há muito poucos autores que aprecie e como tal, cada vez que decido do nada que é altura de ler literatura portuguesa, é um desafio. Tudo o que é clássico, já está lido. E tudo o que é atual, simplesmente não me puxa. Saramago é como o meio termo e então, para mim, é uma exceção. Desta forma, nos últimos anos, cada vez que decido que está na hora de literatura portuguesa, é sempre Saramago. Porém, as escolhas também vão escasseando cada vez mais e desta vez, a escolha foi As Intermitências da Morte.
“Só sabe bem o pão que dia a dia ganham as nossas mãos: nunca mates o Mandarim!”
Comecei a ler este livro super por acaso. “Ganhei-o” num sorteio há para aí uns dois anos na feira do livro de Lisboa. Na altura senti-me com azar, confesso. Depositei-o na biblioteca em casa e nunca mais lhe toquei. Até há uns dias. Estava muito aborrecida no início da semana passada porque já não tinha nenhum livro para ler, e não ia visitar uma boa livraria senão no fim-de-semana. Então, foi nesse espirito que peguei num dos únicos livros das estantes que não tinha lido: O Mandarim. Teve preferência em confronto com outros lá esquecidos devido ao seu autor. Acontece que Eça é provavelmente o meu autor português preferido, e não há muitas obras dele que eu não tenha lido e adorado. Com isto em mente parti, cheia de expectativas, para a leitura deste livro esquecido.
Estudante de Letras. Romântica Incurável. Perdida algures num sonho. Apaixonada por livros, chá, contos de fadas, tragédias e chuva. Entre Flores & Estrelas.