"Tess dos D’Ubervilles", Thomas Hardy
Porque é que não me disseste que existia perigo? Porque é que não me avisaste? As senhoras sabem contra o que se devem guardar, porque leem romances que lhes falam destes truques; mas eu nunca tive a oportunidade de o descobrir desse modo; e tu não me ajudaste!
Tess dos D’Ubervilles é primeiro livro que li de Thomas Hardy. E, em boa verdade, foi mesmo por querer ler algo deste autor que decidi ler este livro. Além disso, a minha escolha deveu-se à clara popularidade da obra. Tenho lido muito sobre ela e a curiosidade fala sempre muito alto (pelo menos no meu caso).
Tess dos D’Ubervilles (1891) divide-se em sete fases e, localizada na Inglaterra rural do século XIX durante a grande depressão da década de 70 desse século, narra a triste história de Tess Duberyfield. Oriunda de uma família pobre, os seus problemas começam quando o seu pai descobre a possibilidade de a família ser descendente de uma linhagem importante — os D’Ubervilles — e envia Tess até aos últimos descendentes conhecidos dessa família na esperança de um reconhecimento. É então que Tess conhece Alec D’Uberville, seu primo, que rapidamente desenvolve por ela intenções menos boas. Mais tarde é sugerido que ela é vítima de um crime pela parte dele e do qual resultou uma criança que morre pouco tempo após o nascimento. Anos mais tarde, Tess apaixona-se e casa com Angel Clare. Todavia, esta também não é uma boa experiência para Tess, que é abandonada mal conta a Angel a sua história com Alec. Claro que a obra não acaba aqui, mas não quero dar mais spoilers do que aqueles que já dei!
A maior valência desta obra a meu ver é realmente a crítica social que contém; à moral coletiva, ao peso e à interpretação religiosa e condição feminina à época. Ler agora a história de Tess parece algo além de surreal porque não cabe na nossa cabeça contemporânea que alguém possa ser culpada e marginalizada devido a um tão hediondo crime perpetrado contra si. É muito difícil não sentir simpatia por Tess e, na verdade, talvez isso nos tolde a perceção da obra.
A questão da classe também desempenha um papel importante, como as mudanças na Igreja e as condições do trabalho rural na época. É um retrato muito completo de uma sociedade especifica num espaço e contexto concreto.
Li que a obra não foi totalmente bem recebida aquando da sua primeira publicação. Sabemos que isso, numa tal altura, muitas vezes é prova de que a obra icnomodava o status quo e, portanto, algo de perturbador mas verdadeiro deveria dizer sobre o contexto de receção.
No geral, foi uma obra que muito apreciei ler. Sei que hoje, o cerne da história já não é sequer algo com que, pelo menos em sociedades ocidentais e meios desenvolvidos, nos consigamos relacionar, mas muito do seu simbolismo e muitas das questões que expõe e denuncia continuam, infelizmente, a fazer sentido para nós. Como provavelmente continuarão a fazer sentido durante mais algum tempo.Tess dos D’Ubervilles ainda é uma obra muito popular e estudada.
Esta é uma obra que certamente recomendaria. Sei que existe uma tradução em português da Relógio d’Água, mas além disso, a versão no original em inglês encontra-se com muita facilidade e está disponível nas mais diversas edições. A minha edição — a que está no início do post — é uma da Penguin que recomendo muito devido à introdução, nota ao texto e apêndices que contém. É, em minha opinião, realmente muito completa e bem-conseguida.
E vocês, já leram Tess dos D’Ubervilles? O que dizem sobre esta obra? Que outra recomendariam deste autor?