“The Decay of Lying”, Oscar Wilde
As coisas existem porque nós as vimos, e o que nós vemos, e como nós vemos, depende da Arte que nos influenciou.
The Decay of Lying é um ensaio sob a forma de diálogo publicado em 1891 numa coleção intitulada Intentions. Todavia, este ensaio foi antes divulgado em 1889 numa revista literária britânica de então —The Nineteenth Century.
Este ensaio, como escrevi acima, tem a forma de um diálogo muito semelhante aos Platónicos e decorre entre duas personagens - Vivian e Cyril. O diálogo é, na verdade, uma exposição de parte da teoria estética de Oscar Wilde e promove essencialmente uma visão da importância da arte e o seu declínio à época com a primazia dada ao realismo e às representações factuais da vida social.
Desta obra gostaria de destacar três aspetos da teoria em questão. Creio que o ensaio é sobretudo relembrado pela ideia exposta de que a vida imita a arte e não o oposto. Essa é uma ideia agora vastamente reproduzida e divulgada, mas a origem é este diálogo. Mais interessante do que essa ideia é, em minha opinião, aquela que daí decorre – a possibilidade de que a natureza imita igualmente a arte. Quando estava a ler, se não tive dificuldades em aceitar a primeira ideia, até porque já estava familiarizada com ela, esta segunda demorei mais. A ideia de que a natureza pudesse imitar a arte e não vice-versa foi-me estranha até perceber que referia a nossa própria apreensão da natureza, o modo como a olhámos e, aí, conseguimos perceber o argumento. Parte do pressuposto de que o que nos rodeia existe porque nós existimos e que a sua existência depende do modo como vivemos e absorvemos o que nos rodeia e isso, claro, também se relaciona como a nossa experiência da arte.
O segundo aspeto que destaco relaciona-se com a ideia de que a arte de cada época não diz necessariamente algo sobre essa época. Parece contraintuitivo, na verdade, porque estamos habituados a olhar tudo em contexto e a crer que as coisas não surgem do nada. Mas, não deixa de ser uma ideia importante e que se relaciona diretamente com a conceptualização da arte pela arte.
Neste âmbito, a mentira e o seu declínio que dão o título ao ensaio referem-se ao declínio da literatura que, como a arte, existindo por si e para si, estaria em declínio pelo esforço em a aproximar da realidade. Tal remete para movimentos como o Realismo que se preocupou em reproduzir a vida humana e social o mais proximamente. Ou seja, a literatura e arte não devem seguir esse decurso, mas continuar a “mentir”, a gerar uma ideia e uma imagem de beleza próprias que, justamente, despertam na vida a necessidade e a vontade de imitar a arte. Assim, o autor estabelece como propósito da arte a criação de uma mentira. A aproximação à realidade é o declínio da arte de mentir e, consequentemente, da arte no geral.
Como podem perceber por estes pequenos exemplos que muito sinteticamente tentei expor, este ensaio engloba diversos aspetos estéticos que viriam a ter uma prevalência e importância na arte muito significativa. Penso que qualquer pessoa que se interesse pelo tema encontrará aqui aspetos novos, interessantes e valiosos.
Não tenho ideia deste ensaio estar traduzido em português, mas é possível que assim aconteça, nem que apenas numa coleção do autor. A edição que eu tenho deste ensaio é da Penguin e inclui igualmente outro ensaio de Wilde no mesmo modelo e que aborda igualmente a sua teoria estética -The Critic as an Artist - que igualmente recomendo.