“Vera ou os Niilistas”, Oscar Wilde
Nestes dias modernos, ser vulgar, analfabeto, comum e cruel parece dar a um homem uma extraordinária infinidade de direitos com os quais os seus honestos pais nunca sonhariam.
Vera ou os Niilistas é uma peça em quatro atos de Oscar Wilde primeiramente em palco em 1883 em Nova Iorque. É levemente baseada na vida da revolucionária russa Vera Zasulich (1851-1919).
A protagonista da peça é Vera e conhecemos a sua história no prólogo que antecede os quatro atos. A ação da peça remete para a Rússia do início do século XIX. Vera, a protagonista, é persuadida pelo irmão, um prisioneiro, a tornar-se parte de um grupo revolucionário – os niilistas – que pretendem assassinar o Czar e dar o poder à população. Para vingar a prisão do irmão, Vera junta-se ao grupo e, decorridos alguns anos torna-se a sua principal figura e uma das pessoas mais procuradas pelas autoridades. Desafiando um dos juramentos do grupo, Vera apaixona-se por outro membro do grupo – Alexis – apenas para mais tarde descobrir que este é, na verdade, o herdeiro ao trono. Tudo se complica nos últimos dois atos quando Alexis ascende ao poder e a tarefa de o assassinar é delegada a Vera.
Os últimos dois atos são, a meu ver, os mais interessantes. Por um lado observamos o dilema de Vera entre assassinar alguém por quem está apaixonada ou manter-se fiel à sua palavra e às suas crenças; por outro lado, observamos os esforços de Alexis após a ascenção ao poder para tornar a Rússia mais igualitária, justa e democrática e modo como se debate com os seus conselheiros e pessoas mais próximas que o creem louco ou irrealista.
Por aquilo que tive a oportunidade de ler, esta peça não foi, à sua época, um grande sucesso, pelo contrário. Não obstante, também recebeu diversos elogios da crítica de então. Todavia, desde aí não tem sido encenada com frequência. Creio que é das peças do autor menos lidas. Eu descobri-a muito por acaso — gosto muito deste autor e estava à procura de uma peça dele que ainda não tivesse lido. Penso igualmente que, e sobretudo na sua época, talvez tenha sido alvo de uma recção tão contraditória porventura do controverso tema que aborda.
Em Portugal, podem encontrá-la numa edição da Relógio d’Água de trabalhos selecionados de Wilde. Não tenho conhecimento de mais alguma tradução, mas o texto original pode ser encontrado com muita facilidade, inclusive online. Já tiveram oportunidade de ler? Têm um obra preferida deste autor?